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Os desafios do agronegócio brasileiro nas relações comerciais internacionais
*Por Leandro Viegas
O Brasil, com sua vasta extensão territorial, recursos naturais abundantes têm sido historicamente reconhecido como um dos principais exportadores de produtos agrícolas do mundo. No entanto, a dinâmica do mercado global e as mudanças nas relações comerciais têm apresentado desafios significativos para o setor agropecuário, ao mesmo tempo em que se abrem novas oportunidades de crescimento e expansão.
Agora mais recente, temos acompanhado pela mídia os protestos de agricultores em vários países na Europa, especialmente na França. Uma situação que tem levantado preocupações sobre possíveis impactos nas relações comerciais internacionais e no comércio entre o Brasil e a União Europeia (UE). Os manifestantes expressam insatisfação com os crescentes custos de produção, sobretudo relacionados ao aumento do preço do diesel e às exigências ambientais mais rigorosas, como parte do Pacto Verde europeu. Essas demandas levantam questões sobre a competitividade dos produtos agrícolas europeus em comparação com os importados de outras regiões, incluindo o Brasil.
Para entender melhor os possíveis desdobramentos, é importante analisar o contexto das relações comerciais entre o Brasil e o bloco europeu. O acordo comercial entre o Mercosul e a UE, negociado ao longo de duas décadas e finalizado em 2019, representa uma oportunidade significativa para o agronegócio nacional expandir seu acesso ao mercado de lá. No entanto, a ratificação e implementação plena desse acordo têm enfrentado obstáculos políticos e resistência de certos setores da sociedade civil europeia, especialmente em relação às preocupações ambientais e sociais.
Esses protestos de agricultores na Europa podem intensificar essa resistência e aumentar as barreiras não tarifárias impostas à entrada de produtos agrícolas de fora do bloco. Isso poderia impactar negativamente as perspectivas de exportação do agro brasileiro e dificultar ainda mais a conclusão e implementação do acordo Mercosul-União Europeia.
No entanto, apesar dos desafios apresentados na Europa, o setor agropecuário brasileiro continua a registrar números impressionantes de exportação. Em 2023, segundo a Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) atingiu o recorde de US$ 166,55 bilhões, representando um aumento significativo em relação ao ano anterior. Esse desempenho é impulsionado principalmente pela forte demanda global por commodities agrícolas, como soja, milho, carne bovina, entre outros.
O Centro-Oeste brasileiro, especialmente os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, desempenha um papel crucial nesse cenário, sendo responsável por uma parcela significativa das exportações.
Dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) revelam que a região exportou 680,1 mil toneladas de carne bovina in natura entre janeiro e setembro de 2022, representando 45,3% do total exportado pelo Brasil nesse período.
Esses números destacam a importância estratégica da região para o agronegócio nacional e sua contribuição para a balança comercial do país. No entanto, é importante reconhecer que o setor enfrenta uma série de desafios, incluindo questões ambientais, sociais e regulatórias, que podem afetar sua competitividade no mercado global. Por exemplo, a União Europeia implementou recentemente regulamentações mais rigorosas, como a Deforestation-free Regulation, que exige a ausência de desmatamento e violações de direitos humanos em toda a cadeia de produção de produtos agrícolas importados. Essas regulamentações, embora tenham como objetivo promover a sustentabilidade, também podem impor ônus adicionais aos produtores brasileiros e dificultar o acesso aos mercados europeus.
Dentre os desafios apresentados por essas regulamentações e políticas, destaca-se o imposto do carbono (Carbon Border Adjustment Mechanism – CBAM) proposto pela UE, o qual visa quantificar e precificar as emissões de carbono incorporadas em produtos importados. Essa medida pode aumentar os custos de produção e exportação para o Brasil, representando um desafio adicional que exige uma resposta estratégica por parte do governo e dos produtores.
No entanto, apesar das dificuldades impostas por tais medidas, o Brasil possui vantagens comparativas significativas no mercado global de alimentos. Com sua vasta extensão de terras férteis, clima favorável e tecnologia agrícola avançada, o país está bem posicionado para atender à crescente demanda por alimentos, especialmente em um contexto de crescimento populacional e mudanças nos padrões de consumo.
Além disso, nossa nação tem se empenhado em promover a sustentabilidade e a responsabilidade ambiental em sua agricultura. Programas como o Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono) visam fomentar práticas agrícolas mais sustentáveis, incluindo a integração lavoura-pecuária-floresta, o plantio direto, a recuperação de áreas degradadas e a regularização ambiental de propriedades rurais. Essas iniciativas demonstram o compromisso do Brasil com a conservação ambiental e o desenvolvimento sustentável de sua agricultura.
Essas iniciativas não apenas contribuem para a redução das emissões de gases de efeito estufa e o combate ao desmatamento, mas também fortalecem a imagem do Brasil como um fornecedor confiável e sustentável. Isso vale ouro em um mercado global cada vez mais consciente e preocupado com as questões ambientais, essas credenciais podem se tornar um diferencial competitivo.
O Brasil tem buscado diversificar seus mercados de exportação e reduzir sua dependência de determinados parceiros comerciais. A crescente demanda por alimentos em mercados emergentes, como China, Índia e países do sudeste asiático, oferece novas oportunidades de expansão para o agronegócio. O aumento do consumo de proteínas animais e a demanda por commodities agrícolas, como soja e milho, nessas regiões podem impulsionar ainda mais as exportações brasileiras nos próximos anos.
Para aproveitar plenamente essas oportunidades, é preciso enfrentar uma série de desafios internos, incluindo infraestrutura precária, burocracia excessiva, questões fundiárias e insegurança jurídica. Investimentos em logística, transporte, armazenamento e tecnologia são essenciais para aumentar a eficiência e a competitividade do agronegócio brasileiro no mercado global.
É imprescindível que o país intensifique seus esforços na diplomacia agrícola e busque uma maior integração com organizações internacionais e blocos comerciais regionais. A diversificação de mercados e a busca por parcerias estratégicas podem contribuir significativamente para reduzir a vulnerabilidade do agronegócio brasileiro a flutuações no comércio internacional e a eventuais crises econômicas globais.
Em resumo, o agronegócio brasileiro enfrenta desafios significativos em um contexto global marcado por mudanças e incertezas. Os protestos de agricultores na Europa, as regulamentações ambientais mais rigorosas e as políticas protecionistas representam obstáculos importantes para as exportações brasileiras. No entanto, o país também possui vantagens comparativas significativas e oportunidades de crescimento, especialmente em mercados emergentes.
Para capitalizar essas oportunidades e enfrentar os desafios, é essencial que o Brasil adote uma abordagem estratégica e coordenada, envolvendo o governo, o setor privado, a sociedade civil e outros stakeholders relevantes. Investimentos em infraestrutura, inovação tecnológica, sustentabilidade e diplomacia agrícola são fundamentais para garantir o desenvolvimento econômico e sustentável do agronegócio brasileiro no século XXI.
- Leandro Viegas é Administrador de Empresas e bacharel em Direito; CEO da Sell Agro
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Maior competição de torra do mundo entra na fase final
A decisão acontecerá entre os dias 5 e 7 de novembro, na Semana Internacional do Café – SIC, no Expominas, em Belo Horizonte
A decisão da Torrefação do Ano Brasil 2025 – a maior competição de torra do mundo – será realizada entre os dias 5 e 7 de novembro, na Semana Internacional do Café 2025 – SIC, no Expominas, na capital mineira, no Espaço Torra Experience. O evento, organizado pela Atilla Torradores, tem como objetivo elevar cada vez mais o nível de qualidade das torrefações envolvidas através de atividades que estimulem a criatividade, a consistência, a análise sensorial e outras habilidades importantes para a área. Além disso, o campeonato gera conhecimento ao público com a criação de conteúdo, dados e a interação de forma positiva pela troca de experiências entre as empresas participantes.
Treinos, torras, avaliações e divulgação do vencedor
Na quarta-feira,05/11, acontecerão os treinos das 12h às 18h50, na quinta-feira, 06/11, serão as torras, também das 12h às 18h50. Já na sexta-feira, 07/11, os juízes farão as avaliações das 9h às 12h e, às 15h, ocorrerá a premiação do campeão do Torrefação do Ano Brasil 2025, no Grande Auditório.
“Chegamos à etapa final com depoimentos positivos de cada participante e isso é um dos nossos objetivos. Todas as torrefações tiveram feedback dos juízes, que, ao avaliarem as amostras recebidas, fizeram o papel do consumidor final. Sendo assim, a cadeia cresce em qualidade. A hora do espetáculo está chegando, os finalistas entregarão, ao vivo, suas melhores torras. Serão três dias de muita troca entre as empresas e o público poderá assistir, aprender como as torras acontecem e, ainda, provar os cafés da fazenda Santa Cruz: os arábicas e Asa Branca e Mundo novo que são variedades dos arábicas. Que seja mais uma grande decisão”, afirma Séfora de Paula, Diretora de Marketing da Atilla Torradores.
Atrações no estande
No estande da Atilla Torradores terão torras de cafés especiais com distribuição de amostras, provas de café produzidos nas matas de Minas e a exposição de uma obra de arte, uma locomotiva, do artista plástico Robson Emerick, em homenagem à Ferrovia Leopoldina. O café e os trens compartilham de um mesmo enredo na história brasileira. O café exigiu caminhos mais rápidos e pediu estradas mais largas. A Estrada de Ferro Leopoldina começou a ser construída em 1874. No início do Século XX, consolidou-se como uma das maiores malhas ferroviárias do Brasil, chegando a mais de 3.200 km de trilhos, sendo quase toda dedicada ao transporte de café.
No estande da final, o público acompanhará as torras através de TVs e poderá provar os cafés da final do campeonato (produzidos no Sul de Minas).
Campeonato começou com 131 corporações
A competição iniciou com 131 instituições. Agora, são 20 que seguem na disputa: Nelly Cafés Especiais, O Cafeeiro, Affinis, Expocaccer, Dulcerrado, Caffè do Borella, Do Coado ao Espresso, Volante Café, Caffè Tonani, Apé Café, Lincoln Café Especial, William and Sons Coffee Co, Saga Coffee, Arabic Coffee, São Caetano Coffee House, Lab Cup, Guanabara Café, Café Gourmet cgp, Veraz Cafés e Paiol Avenida.
Os cafés especiais dessa edição foram feitos pela Fazenda Santa Cruz, em Paraguaçu (MG), pela produtora Josiani Moraes. Na fase anterior, as instituições, de 18 estados, receberam 1,5kg de dois cafés crus distintos e realizaram a torra nas próprias corporações. Em seguida, as amostras torradas foram enviadas à Atilla Torradores e um corpo de juízes avaliou todas pelo método de cupping ou prova de xícara (processo de avaliação sensorial).
Torrefação do Ano Brasil – 2025, a maior competição de torra do mundo
Programação:
Quarta-feira (05/11): Treinos das 12h às 18h50
Quinta-feira (06/11): Torras das 12h às 18h50
Sexta-feira (07/11): Avaliação dos juízes das 9h às 12h e às 15h premiação do campeão
Local: Semana Internacional do Café 2025 – SIC, no Expominas, em Belo Horizonte (MG), no Espaço Torra Experience
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Cartilha inédita conecta produção rural e conservação da Mata Atlântica
Publicação apresenta 110 espécies nativas e orienta produtores rurais a integrar conservação da Mata Atlântica e práticas produtivas sustentáveis
A Associação Ambientalista Copaíba, em parceria com o WWF-Brasil e a Sylvamo, lançou a cartilha “Árvores nativas da Mata Atlântica: sustentabilidade e utilização na propriedade rural”. O material reúne informações sobre 110 espécies nativas e foi desenvolvido como uma ferramenta prática para apoiar agricultores e comunidades na adoção de práticas que unem produtividade e conservação ambiental.
O guia destaca as características ecológicas e o potencial de uso das espécies em diferentes contextos, como a recuperação de áreas degradadas e a implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs). A proposta é oferecer subsídios para que produtores rurais escolham as árvores mais adequadas ao enriquecimento de suas áreas, promovendo benefícios ambientais, produtivos e sociais.
A iniciativa integra o Programa Raízes do Mogi Guaçu, fruto da cooperação entre WWF-Brasil e Sylvamo, com implementação da Copaíba. Criado para impulsionar a restauração da Mata Atlântica e a preservação de mananciais na bacia do rio Mogi Guaçu, o programa já restaurou, até abril de 2025, mais de 340 hectares de florestas nativas na Serra da Mantiqueira.
Com 26 anos de atuação, a Copaíba é responsável pela produção de mudas nativas, pelo planejamento e execução dos plantios e pelo engajamento de proprietários rurais e comunidades locais. Para a organização, a nova cartilha amplia o alcance dessas ações, oferecendo conhecimento acessível e aplicável para quem deseja cultivar e restaurar a biodiversidade da Mata Atlântica.
“A cartilha representa um passo importante para aproximar o produtor rural das soluções baseadas na natureza. Ao facilitar o acesso a informações sobre espécies nativas e seus usos, reforçamos que é possível produzir de forma sustentável e, ao mesmo tempo, recuperar a biodiversidade e os mananciais da Mata Atlântica”, destaca Flávia Balderi, secretária Executiva da Associação Ambientalista Copaíba.
O material será disponibilizado gratuitamente através do site: https://copaiba.org.br/arvores-nativas-da-mata-atlantica/.
Benefícios das árvores nativas
As árvores nativas da Mata Atlântica desempenham um papel fundamental na manutenção do equilíbrio ambiental, trazendo benefícios ecológicos, sociais e econômicos. Sua essencialidade está ligada à conservação da biodiversidade, ao fornecer abrigo e alimento para inúmeras espécies de fauna e flora, muitas das quais são endêmicas e ameaçadas de extinção.
Segundo Flávia Balderi, entre os principais benefícios oferecidos pelas plantas estão a melhoria do solo, por meio da fixação de nitrogênio, aumento da matéria orgânica e estabilização contra processos erosivos; a produção sustentável, com o aproveitamento de frutos, madeiras de manejo, óleos essenciais e resinas que geram renda a agricultores e comunidades; e a proteção ambiental, já que essas árvores regulam o ciclo da água, ajudam na manutenção das nascentes e rios, além de proporcionar sombra, reduzir a temperatura e melhorar a qualidade do ar em áreas urbanas.
“Investir na restauração e no plantio de árvores nativas é essencial para garantir um futuro sustentável, promovendo a recuperação dos ecossistemas e a valorização dos serviços ambientais que essas espécies oferecem”, conclui.
Destaque
Safra recorde de grãos impulsiona demanda por automação industrial
Produção prevista pela Conab para 2025/26 reforça importância de soluções automatizadas na etapa pós-colheita, avalia especialista da Selgron
O Brasil deve alcançar uma colheita recorde de 354,7 milhões de toneladas de grãos na safra 2025/26, segundo o primeiro levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgado em outubro. O volume é 0,8% superior ao ciclo anterior, impulsionado pelo crescimento de 3,3% na área plantada e pelo bom desempenho de culturas como soja e milho. O resultado consolida o país como um dos maiores produtores e exportadores de grãos do mundo — e traz consigo um desafio proporcional: garantir eficiência, segurança e qualidade em todo o processo produtivo.
Para acompanhar esse avanço, cresce também a demanda por automação nas etapas finais da produção, como seleção, classificação e embalagem. É o que observa Rodrigo Bortolini, Diretor Presidente da Selgron, empresa catarinense especializada em soluções de automação industrial para diferentes segmentos, inclusive o agronegócio.
“O aumento da produtividade no campo naturalmente pressiona as indústrias de beneficiamento e empacotamento a operarem de forma mais ágil e precisa. Hoje, a automação é um fator essencial para manter a competitividade e reduzir perdas em um cenário de grande volume de produção”, afirma Bortolini.
A Selgron desenvolve tecnologias que otimizam o processamento e o controle de qualidade de grãos, como selecionadoras ópticas, que identificam impurezas ou grãos fora do padrão; detectores de metais, que garantem a segurança alimentar; classificadoras, empacotadoras, agrupadoras e sistemas robotizados de paletização, que tornam o fluxo produtivo mais eficiente e rastreável.
“Quando falamos de uma safra recorde, falamos também de uma necessidade recorde de eficiência. O setor agrícola brasileiro vem investindo fortemente em automação, não apenas para aumentar a capacidade de processamento, mas para agregar valor ao produto final, especialmente no caso das exportações”, destaca o diretor presidente da empresa.
De acordo com Bortolini, a adoção de sistemas automatizados traz ganhos expressivos em padronização, segurança e rastreabilidade, além de reduzir o desperdício de matéria-prima e o custo operacional. “É um movimento sem volta. A indústria que acompanha o ritmo do campo precisa investir em tecnologia para manter a qualidade e a sustentabilidade do processo”, conclui.
