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Agro brasileiro e a luta dos “quatro cavaleiros do apocalipse”

*Roberto Rodrigues
Com origem na filosofia, os quatro cavaleiros são descritos como personagens na terceira visão profética do apóstolo João, no livro bíblico de revelação ou apocalipse. Eles foram citados como Peste, Guerra, Fome e Morte. Mas, você deve estar se perguntando, qual a relação desse acontecimento com o agronegócio brasileiro? Bem, o mundo hoje passa por uma verdadeira batalha, que envolve o futuro da população e, nessa “guerra”, o Brasil tem protagonismo para liderar o cenário contra os desafios dos “quatro cavaleiros do apocalipse”, não mais em um possível juízo final, como o que esperavam em 1500, mas sim, o que enfrentamos agora no século 21, sendo eles: segurança alimentar, segurança energética, mudanças climáticas e desigualdade social.
Porém, ser capaz não quer dizer que esse caminho é fácil ou que exista uma receita para isso. Nesse sentido, diria que a cooperação e a inovação possuem papéis cruciais nessa jornada. Antes de dizer como, é preciso explicar como chegamos até aqui. Hoje, o setor se destaca como um dos pilares fundamentais da economia nacional impulsionando não apenas a atividade rural, mas também influenciando o panorama econômico e social do País. Não vamos nos limitar apenas à produção agrícola, afinal, é uma complexa rede que se estende desde a pesquisa científica, até a comercialização do consumidor lá na ponta final. É também um conjunto de ações que transforma sementes em produtos, e estes chegam aos lares do mundo todo.
O detalhe é que o Brasil é singular nesse aspecto, com características únicas e que forma um conjunto muito particular. Com sua vasta extensão territorial e diversidade climática, o país abriga uma agricultura multifacetada, onde cada região tem sua especialização. Desde a produção de uvas no Rio Grande do Sul, até o cultivo de café no Espírito Santo, por exemplo, a classe produtora é verdadeiramente plural, refletindo a riqueza cultural e a disparidade regional.
Os impressionantes números que envolvem o setor comprovam tudo isso. O impacto do agronegócio na economia brasileira é inegável. Responsável por quase 30% dos empregos no país e representando cerca de 25% do PIB, o segmento é um dos pilares fundamentais do crescimento econômico. Com um saldo comercial positivo, as exportações agrícolas atingiram a marca de US$ 166 bilhões, enquanto as importações ficaram em torno de US$ 90 bilhões. Esse saldo crescente não apenas gera renda e riqueza, mas também fortalece as reservas cambiais.
E um dos fatores cruciais por trás desse cenário é, sem dúvida, a adoção de tecnologias sustentáveis e tropicais. Ao longo das últimas décadas, o Brasil testemunhou um incrível avanço na produção, impulsionado, principalmente, pela incorporação de tecnologias inovadoras. Desde o Plano Collor em 1990, que viu um aumento significativo na área plantada e na produção de grãos, até os dias atuais, onde se destaca como o único país capaz de realizar até três safras por ano em uma mesma área. Lembrando, claro, que isso graças à irrigação e à rotação de culturas, além de outras ações.
Esse crescimento exponencial é fruto de quatro condições-chave que encontramos em nosso país. Primeiro, desenvolvemos tecnologias tropicais sustentáveis líderes no mundo. Segundo, contamos com produtores empreendedores que abraçaram e continuam a acatar essas inovações. Terceiro, possuímos vastas extensões de terra disponíveis para expansão das atividades. E por último, mas não menos importante, contamos com políticas públicas que fomentam esse crescimento.
Desafios a superar
No entanto, apesar desses avanços, o setor enfrenta também desafios significativos. A logística deficiente é um importante gargalo, especialmente nas regiões de fronteira agrícola, como o Centro-Oeste, que representa um obstáculo ao crescimento contínuo. Durante um evento no início desse mês, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) debateu os desafios para o escoamento da safra brasileira nos próximos anos, em audiência pública na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado.
Na ocasião, a Comissão Nacional de Logística e Infraestrutura da Confederação divulgou que a infraestrutura não tem acompanhado a evolução na produção. Recentemente, por exemplo, nos portos do Arco Norte, por reflexo da grave seca que atingiu os rios da região, precisou alterar a logística de escoamento de boa parte da produção para os portos do Sul e Sudeste.
Outro ponto de destaque é a armazenagem das safras, tema que levantamos quase diariamente no setor. Segundo a CNA, a capacidade de armazenagem cresceu 3,5% ao ano e a produção 5,3% em 2024, apresentando um déficit de 118,7 milhões de toneladas. Ou seja, é evidente que a logística e a capacidade de armazenagem não estão acompanhando a evolução cada vez maior da safra de grãos.
Soluções como os silos-bolsas, por exemplo, que o Grupo Nortène oferece à classe produtora, são opções que devem ser incentivadas. Elas ajudam a diminuir esse déficit, preservando a qualidade dos grãos e deixando margem para que o produtor possa escolher o melhor momento de comercializá-los.
Além disso, temos ainda questões como desmatamento ilegal na Amazônia, invasão de terras e os incêndios criminosos que ameaçam a sustentabilidade ambiental do setor. Com todo este cenário, fica evidente que o Brasil não pode ser considerado apenas uma força econômica, mas também um agente de mudança social e ambiental. Com sua capacidade de gerar empregos, renda e riqueza, o agronegócio desempenha um papel fundamental no desenvolvimento do Brasil e na construção de um futuro mais sustentável para o planeta.
Por meio de iniciativas, como as das cooperativas agrícolas e dos investimentos em infraestrutura e apoio do Governo, o agronegócio pode alcançar novos patamares. Com um foco renovado na sustentabilidade, o setor está posicionado para liderar a luta global contra “os quatro cavaleiros do apocalipse”.
* Engenheiro Agrônomo e agricultor, Professor Emérito da FGV, Embaixador Especial das Cooperativas da FAO, Ex-ministro da Agricultura, conselheiro no Grupo Nortène.

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Nova sonda de medição da Vaisala garante melhor controle de câmara seca

Dispositivo fornece medições precisas em condições exigentes de processamento, como ocorre na produção de baterias de íons de lítio
A Vaisala lançou no começo de junho a nova Sonda de Ponto de Orvalho e Temperatura DMP1, para monitoramento das condições ambientais em salas e espaços industriais críticos. É ideal para salas secas: é compacta, tem capacidade de medição de ponto de orvalho de até -70 °C e resposta centena de vezes mais rápida do que outras tecnologias disponíveis.
Fornece, ainda, medições precisas em condições exigentes de processamento a seco, como as encontradas na produção de baterias de íons de lítio, onde o controle da umidade é fundamental para o desempenho das baterias fabricadas. Empregando tecnologia de medição avançada, a DMP1 garante que as condições do ponto de orvalho permaneçam conforme especificado em todas as áreas de uma câmara seca de fabricação, ajudando assim a manter a qualidade do produto e a segurança da fabricação, especialmente onde o controle da umidade é fundamental para a fabricação de baterias, como as de lítio.
“A resposta rápida da nova sonda torna os sistemas de controle capazes de dar uma resposta em tempo hábil, garantindo a proteção da qualidade e segurança do produto”, afirma Bruno Albuquerque, gerente comercial da Vaisala no Brasil. Na prática, os clientes podem controlar com eficiência quaisquer desvios no ponto de orvalho da câmara seca. “Tempos de reação rápidos se traduzem em maior segurança no local de trabalho, mantendo a alta qualidade do produto e evitando desperdícios no processo de produção das baterias”, garante o especialista.
Melhor visibilidade e controle
O DMP1 faz parte do ecossistema modular de medição Vaisala Indigo, oferecendo compatibilidade plug-and-play com dispositivos inteligentes conectados. Por exemplo, ele pode ser conectado a um transmissor Indigo300 para exibir dados e transmitir valores de medição para sistemas de automação e controle. A sonda também pode ser conectada a um dispositivo portátil Indigo80 para trabalhos de manutenção, e as sondas intercambiáveis minimizam o tempo de inatividade e simplificam o trabalho de manutenção.
Anteriormente, o controle do ponto de orvalho em salas secas era feito por sensores volumosos, com alcance de medição limitado e resposta lenta. “A sonda DMP1 representa, portanto, um grande avanço, pois resolve esses problemas, proporcionando aos gerentes de processo maior visibilidade das condições ambientais e mais tempo para responder quando as condições se desviam do ideal”, sintetiza Albuquerque.
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Digitalização no campo transforma o setor sucroalcooleiro com soluções financeiras personalizadas

A digitalização e as soluções financeiras personalizadas têm sido essenciais para modernizar o setor sucroalcooleiro; especialistas explicam que, mesmo com a sazonalidade e a atuação em locais remotos, sua equipe superou os desafios com soluções adaptadas e tecnologias aplicadas
A digitalização dos meios de pagamento e a personalização de benefícios têm se mostrado estratégias decisivas para modernizar o setor agroindustrial, especialmente no segmento sucroalcooleiro. Em entrevista, Angela Kerche, especialista em soluções de benefícios da p2xPay, detalha como sua equipe superou os desafios de um setor marcado por sazonalidade e operação em áreas remotas.
“O setor agroindustrial, especialmente o sucroalcooleiro, possui uma dinâmica muito específica: sazonalidade na contratação de mão de obra e equipes operando em áreas remotas”, conta Angela. “Um dos principais desafios foi adaptar nossas soluções de benefícios e premiação a esse contexto, garantindo usabilidade e criando formas de distribuir os cartões com agilidade”, destaca, e explica que a superação veio por meio de escuta ativa com os produtores e do envolvimento estratégico das cooperativas de cana-de-açúcar. “Esse apoio garantiu credibilidade às parcerias e abriu caminho para uma adoção mais rápida e eficaz”.
A tecnologia como motor de valorização e eficiência
Entre as soluções desenvolvidas estão os Cartões Premiação p2xPay e Cartões Benefícios de múltiplas bandeiras, que oferecem flexibilidade, segurança e gestão digital simplificada e podem ser considerados como parte de um verdadeiro case de sucesso. “Capacitamos os gestores na utilização das ferramentas, o que acelerou a aceitação e eficácia da nossa solução no campo”, afirma a especialista.
Os impactos foram expressivos. Segundo Felipe Andrade, COO da p2xPay, a introdução dos cartões como ferramenta de reconhecimento aumentou significativamente o engajamento das equipes, especialmente entre líderes, operadores de campo e motoristas. Além disso, empresas relataram melhora na retenção de talentos sazonais, aumento da produtividade e benefícios fiscais. “Muitas empresas relataram melhora na retenção de talentos sazonais e aumento da produtividade, pois os colaboradores passaram a se sentir mais valorizados”, diz. “Já para os gestores e equipes administrativas, os cartões e as ferramentas de meios de pagamento simplificaram a gestão financeira, reduziram retrabalho contábil, aumentaram o controle das verbas e trouxeram redução de custos”, reitera o executivo.
Andrade explica que, durante reuniões realizadas com empresas do setor, pôde perceber o quão importante é ouvir o cliente e adaptar as soluções à sua realidade. “Durante este mês, visitei clientes e parceiros do agronegócio nas regiões do Paraná e Goiás, e pude constatar na prática o quanto é transformador manter a proximidade. Ao ouvir suas demandas e adaptar soluções às suas realidades específicas, percebemos que é essencial acompanhar de perto todo o processo de implantação – isso tem sido um fator decisivo para o sucesso das iniciativas. Essa abordagem personalizada não apenas está impulsionando a produtividade no campo, como também está fortalecendo a retenção de talentos, promovendo um ambiente mais colaborativo, valorizado e genuinamente alinhado às necessidades reais do setor.”
Estudos comprovam: produtores rurais brasileiros já adotaram pelo menos uma tecnologia digital em suas atividades
Esses resultados estão alinhados com as tendências nacionais. Um estudo da Embrapa, Sebrae e INPE revelou que 84% dos produtores rurais brasileiros já adotaram pelo menos uma tecnologia digital em suas atividades. No entanto, o setor ainda enfrenta desafios: o Índice Agrotech, da GS1 Brasil, aponta que o uso de softwares de gestão no agro caiu de 38% em 2021 para 20% em 2024. Isso mostra que, embora haja avanços, a digitalização ainda precisa de estímulo e apoio estratégico. Outro levantamento, realizado pela Universidade de Brasília, apontou que mais de 95% dos produtores utilizam algum tipo de tecnologia digital, sendo que 96,3% usam softwares ou aplicativos para operações bancárias, 90,7% para manejo agrícola e 70,3% para gestão da propriedade.
Esses dados mostram que a digitalização no campo não é apenas uma tendência, mas uma realidade crescente, ainda que desafios como conectividade e custo de investimento continuem sendo barreiras importantes.
Transformação digital no Agro: mais interesse com a automatização de tarefas
Nesse contexto, Ana Paula Campeão, Head Comercial Filial Pederneiras da p2xPay, observa um aumento no interesse por soluções financeiras personalizadas no campo. “O interesse tem crescido de forma consistente. O agronegócio está cada vez mais atento às ferramentas que otimizam tempo, aumentam a transparência e reduzem burocracias e custos, especialmente em áreas como folha de pagamento, gestão de premiações e benefícios”, reitera, e conclui com uma visão clara sobre o futuro do setor. “A inovação financeira deixou de ser tendência e passou a ser uma necessidade real no campo. Os produtores têm reagido de forma muito positiva, reconhecendo os ganhos em eficiência, segurança jurídica e valorização do capital humano”.
A transformação digital no agro não apenas moderniza a gestão, mas fortalece o compromisso com o bem-estar dos colaboradores e a sustentabilidade do setor. Com o apoio de cooperativas e o uso estratégico da tecnologia, os campos do Brasil se aproximam cada vez mais de um modelo produtivo mais eficiente, justo e competitivo.
Sobre a p2xPay
Com planos de expandir ainda mais sua presença em outras regiões-chave, a p2xPay almeja se consolidar como uma parceira indispensável para produtores e empresas do setor em todo o país. Além das soluções financeiras, a fintech enfatiza o valor das pessoas e dos parceiros, buscando impulsionar a economia das regiões onde atua, através de seus cartões e de suas ferramentas de benefícios e premiação.
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Pesquisadores desenvolvem solução para controle de pragas capaz de preservar organismos não-alvo, em especial os anfíbios

Sapos e rãs sofrem consideravelmente com os efeitos colaterais dos pesticidas; para evitar que isso siga ocorrendo, cientistas brasileiros criaram uma alternativa promissora aos inseticidas sintéticos
Estudos recentes, como o desenvolvido no Instituto Federal Goiano, alertam para o fato de que a exposição crônica a misturas de pesticidas em ambientes agrícolas pode resultar em reduções populacionais de até 70% em espécies locais de anuros (sapos e rãs), especialmente nas fases larvais. Nesse cenário, a publicação “Medindo o Colapso: Fatores que Causam a Extinção e o Declínio Global dos Anfíbios“, veiculada na revista científica internacional Plos One, revela que mais de um terço das espécies de anfíbios do mundo está ameaçado de extinção, tendo nos pesticidas um dos principais fatores que desencadeiam essa quadro. Em um ecossistema altamente interligado, a vulnerabilidade dos anuros pode impactar negativamente a própria agricultura, que deixará de contar com aliados naturais para o manejo de insetos que predam as plantações.
É nesse contexto que se insere o estudo desenvolvido pelos cientistas parceiros do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nanotecnologia para Agricultura Sustentável (INCT NanoAGro): Willian de Paula Santos, Caroline Santos, Letícia Paduan Tavares, Jhones Luís de Oliveira, Leonardo Fernandes Fraceto e Claudia Bueno dos Reis Martinez, recém publicado pelo Boletim de Contaminação Ambiental e Toxicologia. A partir de análises em laboratório, os pesquisadores descobriram que o geraniol nanoencapsulado (nGER) pode ser uma alternativa promissora aos pesticidas sintéticos atualmente utilizados, pois combina os efeitos pesticidas do geraniol com a proteção contra a degradação ambiental proporcionada pelas nanocápsulas de zeína, proteína presente em grãos de milho.
A pesquisa é uma das poucas do Brasil a investigar os efeitos causados por alternativas aos pesticidas em anfíbios, organismos não-alvo que sofrem consideravelmente com os impactos das substâncias, conforme pontua a Dra. Claudia Bueno dos Reis Martinez, pesquisadora do INCT NanoAgro. “Essa é uma linha de pesquisa fundamental para o futuro da agricultura. Precisamos cada vez mais de soluções que respeitem o meio ambiente, e os compostos naturais, quando bem estudados, oferecem um campo vasto de possibilidades”, afirma a cientista
Além de propor uma alternativa de pesticida capaz de preservar organismos não-alvo, o estudo também destaca a importância de que a ciência avance no sentido de entender os mecanismos moleculares envolvidos na ação de substâncias naturais, reforçando o papel da nanotecnologia na potencialização de sua eficácia e seletividade.
A pesquisa é parte das atividades do INCT NanoAgro, que reúne instituições e pesquisadores de diversas áreas para fomentar a inovação no campo da agroecologia por meio da aplicação de nanotecnologia. Confira os detalhes em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0001636.