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Reduto do café especial em SP, Alta Mogiana aposta na fermentação para potencializar negócios

Café especial

Diante de desafios climáticos e da volatilidade do mercado, a diversidade de produtos pode ser a chave para manter a competitividade e o lucro

“Posso retornar depois? Porque agora vou torrar um café!”, comenta Tiago Donizete Rodrigues, um dos mais premiados produtores da fruta da Alta Mogiana. Sim! Café é uma fruta e adora as condições edafoclimáticas, ou seja, de solo, clima e relevo dessa região ao norte do Estado de São Paulo, mundialmente reconhecida pela qualidade singular na produção de cafés de excelência. Terceira geração de sua família a se dedicar à cultura em um pequeno sítio em Santo Antônio da Alegria, município que faz divisa com Minas Gerais, Tiago já ganhou duas vezes o Concurso Estadual Qualidade do Café de São Paulo realizado pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Em 2022, com café natural e, em 2023, com café fermentado.

Tiago, que também costuma figurar entre os primeiros colocados no concurso anual de qualidade de café da Associação de Cafés Especiais da Alta Mogiana (AMSC), lamenta que a safra de 2024 foi “baixa” e a deste ano, que era para ser “alta”, deverá ser menor ainda, como explica, por causa da seca e do calorão do ano passado. A última safra “alta” na região, de fato, foi em 2020, de acordo com o assistente agropecuário Geraldo Nascimento Júnior, que é engenheiro agrônomo e diretor da CATI de Franca, e integra o Grupo Técnico do Café da CATI. A realidade na plantação de Tiago ajuda a explicar porque o consumidor brasileiro está pagando mais pelo café.

O café é uma commodity, ou seja, uma mercadoria básica no mundo todo. O preço no Brasil fica sujeito às oscilações no mercado internacional. “E como estamos acumulando safras baixas, nossos estoques de café gradualmente estão menores. Além disso, outros países, grandes produtores, como Vietnã, também tiveram quebra de safra por problemas climáticos”, conta o assistente agropecuário.

O Brasil, ainda segundo Geraldo, é o maior produtor, consumidor e exportador de café do mundo. O Estado de São Paulo, com cerca de 200 mil hectares, é o terceiro maior produtor do Brasil. “Pela ordem, as regiões de Franca, São João da Boa Vista, Marília, Ourinhos e Bragança Paulista são as maiores produtoras, respondendo por cerca de 80% do café paulista”, detalha.
De maneira geral, os cafezais paulistas são mecanizados, mas apenas uma pequena parte é irrigada, até porque não há oferta de água suficiente”, acrescenta o assistente agropecuário. O aumento do preço do café, que recentemente bateu recorde na Bolsa de Nova York, pode levar a um crescimento da área plantada. Mas como é uma cultura de ciclo longo, plantios que sejam feitos agora, vão levar pelo menos dois anos e meio para produzir. “Além disso, é preciso ter mudas, que atualmente são feitas sob encomenda. Então, não há como aumentar a produção de um ano para o outro”, agrava Geraldo.

É um cenário complexo, que depende das condições climáticas. “Se neste ano as chuvas vierem como o esperado, quem sabe, no ano que vem tenhamos uma safra “alta” e os preços voltem ao patamar normal”, analisa Geraldo, que acompanha cafeicultores da Alta Mogiana dando assistência técnica, inclusive Tiago, que acumula premiações.

Mesmo produzindo cafés especiais e com preços em alta, com a quebra na safra, os produtores dessa região têm buscando alternativas para manter o lucro. E foi isso que levou Tiago a tomar duas decisões: montar uma pequena torrefação no seu sítio para, assim, vender parte do café especial que produz diretamente ao consumidor e começar a produzir café fermentado com marca própria. “Comecei a fermentar em 2022, após fazer curso na Associação de Cafés Especiais da Alta Mogiana. Na hora da venda, é um diferencial, principalmente para as cafeterias. Tem comprador que chega até a gente, seja pela Internet ou aqui no sítio, por causa do café fermentado”, conta.

Leque de produtos
Martha Grill, gestora da Associação de Cafés Especiais da Alta Mogiana, entidade que representa mais de 5 mil produtores de São Paulo e Minas Gerais, na busca dos melhores negócios para cafés de alta qualidade fora do sistema de commodities, confirma. “A Alta Mogiana produz cafés naturais, de alta doçura e corpo, em grande volume, que podem compor blends de expressos vendidos no mundo inteiro. Então, do ponto de vista mercadológico, é importante para a região ter um leque maior de sensoriais. Ou seja, o café fermentado é mais uma opção para o exportador que já compra na Alta Mogiana. Ele também pode comprar um microlote fermentado, que tem aromas frutados, é mais complexo e que também tem público”, especifica.

Martha acrescenta que o consumidor de café fermentado é o bebedor de café especial que procura um sensorial diferente. O café fermentado do Tiago, premiado, tem essas características: “Tem fragrância e aroma de frutas e caramelo; sabor doce, acidez cítrica, corpo leve e finalização longa e doce”, afirma Rodrigo Esper de Pádua, degustador e avaliador do café do Tiago.

Para Martha, é um nicho de mercado que está crescendo. No concurso anual realizado pela Associação de Cafés Especiais da Alta Mogiana, em torno de 25% a 35% dos inscritos são fermentados.

Café especial, cuidados especiais
Tiago, que conta com a ajuda de seu pai no cuidado do cafezal, assim como do beneficiamento da fruta, ressalta que a fermentação também pode dar errado. “Se der errado, não desenvolve os aromas frutados, mas sim lácteos, e aí a gente perde o lote”, afirma.

Em sua propriedade, Tiago fermenta poucas sacas de café em tambores, de forma similar à fermentação das amêndoas do cacau para a produção de chocolate. Para esse processo, que consiste na degradação natural da polpa e da mucilagem do fruto realizada por microrganismos, é necessário utilizar café especial.

E, para produzir café especial, além das condições de solo, relevo e clima, é necessário cuidado com as plantas de café, com a colheita e com a secagem após a fermentação, que no sítio do Tiago é feita em terreiro suspenso. Para ser considerado especial, o café tem de obter pontuação mínima de 80 pontos na avaliação de uma escala de até 100 em dez atributos como aroma, doçura, acidez, corpo e finalização, explica Martha, gestora da Associação de Cafés Especiais da Alta Mogiana, entidade que faz essa classificação. “Para isso, é necessário matéria-prima pura, sem defeitos nos frutos, sem pedaços de outros materiais, como galhos e cuidado na secagem”, ressalta. Diante dos desafios climáticos e da volatilidade do mercado, apostar na qualidade e na diversidade dos produtos pode ser a chave para manter a competitividade e garantir a sustentabilidade da cafeicultura na região.

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Pinus: o mais brasileiro entre os estrangeiros

Coloque o homem da esquerda mais para a direita, enquadrando-o na imagem

*Por Daniel Chies, Jose Mario Ferreira e Fabio Brun

O Brasil é mestre em melhorar o que vem de fora. O gado nelore, por exemplo, originário da Índia, tornou-se a principal raça bovina do país. A soja, hoje um dos produtos mais exportados, chegou por aqui em 1882, vindo da China. O milho veio do México, o trigo da Mesopotâmia. O Eucalipto veio da Oceania. E assim seguimos, cultivando com excelência o que um dia foi exótico.

No universo das plantas não comestíveis, o fenômeno se repete. Muitas flores e espécies ornamentais, por exemplo, que embelezam nossos jardins, são estrangeiras, mas tão queridas quanto as nativas. Quando passamos para a escala industrial, destacamos a árvore de pinus, uma estrangeira que encontrou no Brasil, especialmente na Região Sul, seu lar ideal.

O cultivo comercial do gênero Pinus começou no Brasil no final dos anos 1970, com um objetivo claro: fornecer madeira para a indústria. E deu certo. O pinus taeda, principal espécie utilizada, encontrou nas condições edafoclimáticas do Sul do país um ambiente perfeito para crescer com vigor. Graças ao melhoramento genético e à tecnologia florestal, o Brasil alcançou os melhores índices de produtividade do mundo para essa espécie.

Segundo o levantamento mais recente da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), em 2024 o país contava com 1,9 milhão de hectares de florestas plantadas de pinus. A Região Sul concentra cerca de 1,69 milhão de hectares, distribuídos entre Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

A madeira de pinus está presente em nosso cotidiano de formas que muitas vezes passam despercebidas. Ela compõe papel, caixas de papelão, móveis, portas, brinquedos, utensílios domésticos e estruturas diversas. Os pellets de madeira, por exemplo, são uma fonte de energia renovável cada vez mais utilizada globalmente.

E não para por aí. A celulose extraída do pinus é usada em cápsulas de medicamentos, na indústria alimentícia e até na automobilística. Com a nanocelulose e a lignina, surgem aplicações inovadoras: superfícies impermeáveis, essências e até pele artificial. O potencial é imenso e estamos apenas no começo.

Em um mundo que exige soluções com menor impacto ambiental, as florestas plantadas para fins industriais se mostram uma alternativa viável e estratégica. Durante seu crescimento, as árvores de pinus capturam carbono da atmosfera, que permanece sequestrado nos produtos derivados por décadas ou até séculos.

Além disso, quase toda a área plantada na Região Sul possui certificações internacionais que garantem práticas rigorosas de responsabilidade social e ambiental. As empresas do setor preservam cerca de 30% da vegetação nativa nos três estados, demonstrando compromisso com o equilíbrio ecológico.

O pinus escolheu o Sul do Brasil para prosperar e foi bem acolhido. As empresas de silvicultura da região atuam com responsabilidade e visão de futuro, adotando práticas ambientais, sociais e de governança muito antes do termo ESG se tornar tendência. Por isso, a madeira de pinus brasileira é reconhecida internacionalmente pela sua qualidade e sustentabilidade.

Essa é uma história de sucesso que começou há décadas e continua a crescer, como as próprias árvores que a protagonizam. O pinus pode não ser brasileiro de origem, mas já é parte essencial do nosso presente e, com certeza, do nosso futuro.

  • *Daniel Chies é presidente da Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), Jose Mario Ferreira é presidente da Associação Catarinense de Empresas Florestais (ACR) e Fabio Brun é presidente da Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (APRE Florestas).
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Queijos brasileiros disputam pódio global e movimentam agronegócio no Paraná

Queijos brasileiros disputam pódio global e movimentam agronegócio no Paraná

Projeto do Biopark, no Oeste paranaense, transforma leite de pequenos produtores em iguarias premiadas com apoio tecnológico e institucional — e atrai atenção internacional

Entre os dias 13 e 15 de novembro, Berna, capital da Suíça, se tornará o epicentro da alta queijaria mundial com a realização do World Cheese Awards 2025. Pela primeira vez em solo suíço, o maior concurso de queijos do mundo reunirá mais de 5 mil amostras de mais de 50 países. No meio desse seleto grupo, o Brasil tem chances reais de figurar entre os grandes — graças a um projeto paranaense que uniu inovação, capacitação rural e ciência aplicada.

Entre os queijos desenvolvidos no Laboratório de Queijos Finos do Biopark Educação, em Toledo (PR), que vão representar o Brasil no concurso, três são inéditos. A iniciativa, que há seis anos transforma leite de pequenos e médios produtores em queijos de alto valor agregado, já soma 69 medalhas em premiações nacionais e internacionais, além de cases de sucesso que chamam a atenção de investidores e formuladores de políticas públicas.

O projeto oferece consultoria integral gratuita aos produtores, desde análise do leite até desenvolvimento de identidade visual, rotulagem e acesso ao mercado. “Os produtores associados ao projeto recebem suporte técnico integral e gratuito, abrangendo desde a melhoria da qualidade do leite até a produção dos queijos, com transferência completa das tecnologias desenvolvidas no laboratório. Durante todo o período de participação, é realizado monitoramento contínuo dos padrões de qualidade, assegurando a manutenção das características e da excelência dos produtos desenvolvidos”, explica Kennidy de Bortoli, pesquisador do Laboratório de Queijos Finos do Biopark Educação.

Carolina Trombini, gerente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação do Biopark Educação, complementa: “O projeto também oferece orientação técnica para os investimentos em infraestrutura física das queijarias, com auxílio na escolha dos equipamentos e layouts mais adequados, de acordo com os objetivos e o porte de cada produtor. Além disso, há acompanhamento permanente para o fortalecimento técnico e gerencial dos negócios. São realizados encontros bimestrais que abordam temas práticos e estratégicos, como marketing digital, vendas, abertura de novos mercados e boas práticas de fabricação. Trata-se de um projeto completo: a partir do momento em que o produtor decide participar, ele passa a contar com suporte em todas as etapas desse novo empreendimento”.

Tradição com tecnologia
O projeto é resultado de uma coalizão estratégica entre o Biopark, o Biopark Educação, o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR‑PR), o Sebrae/PR, o Sistema Faep/Senar e a Prefeitura de Toledo, consolidando uma rede colaborativa que promove inovação, qualificação técnica e valorização da produção local. Juntos, eles transformam a cadeia leiteira — setor estratégico no Paraná, segundo maior produtor do país — com uma lógica de diferenciação de mercado, valorização do terroir e acesso a certificações como SIM, SUSAF e SISBI.

Com base em diagnósticos técnicos, cada produtor recebe indicações personalizadas de tecnologia queijeira conforme as características do seu leite. A diversidade é prioridade: isso favorece o surgimento de um ecossistema competitivo e sinérgico — e a formação de uma Rota de Queijos Finos na região.

Resultados concretos e potencial de expansão
Em 2024, o queijo maturado Passionata, uma tecnologia do Projeto de Queijos Finos do Biopark e produzido pela Queijaria Flor da Terra (Toledo-PR), foi eleito o melhor da América Latina e o 9º melhor do mundo no World Cheese Awards. Este ano, além de tecnologias já lançadas no mercado, três novas criações concorrem na Suíça: o Guarandu, com aroma de guaraná; o Garoa Tropical, com uso de fruta cítrica na coagulação; e o Florescer, de casca lavada e coloração ousada. Produtos que unem identidade brasileira e sofisticação gastronômica — e que já despertam o interesse de importadores e chefs europeus.
Hoje, o projeto Queijos Finos do Biopark conta com 27 produtores integrados, 26 tipos de queijos no mercado e planos de expansão estadual já em curso, com apoio do governo do Paraná.

“Conseguimos criar um modelo escalável, com baixa barreira de entrada para os produtores, retorno rápido e forte apelo de marca. Ao mesmo tempo, servimos de referência de política integrada de desenvolvimento rural, segurança alimentar e inovação tecnológica no campo”, afirma Carmen Donaduzzi, idealizadora do projeto.

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Exportações de carne de MT crescem 67% no 3º trimestre de 2025 e devem superar recorde de 2024

Exportações de carne de MT crescem 67% no 3º trimestre de 2025 e devem superar recorde de 2024

Dados do Data Hub MT mostram que o Estado exportou US$ 1,28 bilhão em carnes no terceiro trimestre, com a China respondendo por mais da metade das compras

As exportações de carne de Mato Grosso voltaram a registrar forte crescimento no terceiro trimestre de 2025, alcançando US$ 1,28 bilhão entre julho e setembro, segundo levantamento do Data Hub MT da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec), com base em informações da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), a pedido do Sindicato das Indústrias Frigoríficas de Mato Grosso (Sindifrigo/MT).

O desempenho inclui carnes bovinas congeladas e frescas, carnes suínas frescas, refrigeradas ou congeladas e carnes de aves e miudezas comestíveis, comercializadas com 92 países. A China manteve a liderança absoluta, representando 56,67% das importações totais do período.

Comparado ao mesmo trimestre de 2024, quando o valor exportado foi de US$ 762,74 milhões, o avanço foi de 67,4%. No acumulado de janeiro a setembro de 2025, as exportações somam US$ 2,88 bilhões, frente aos US$ 2,09 bilhões registrados no mesmo intervalo do ano anterior, uma elevação de 38%.

Entre os produtos, o valor exportado de carne bovina congelada foi de  US$ 1,64 bilhões representa 78,4% do total, carnes bovinas frescas ou refrigeradas US$ 256,8 milhões (12,2%) e as aves com US$ 146,3 milhões (7%).

A China segue como o maior comprador dos produtos com US$ 851,6 milhões (40,76%), seguido de Emirados Árabes Unidos US$ 225, 7 milhões (10,8%) e Turquia  US$ 96,4 milhões (4,6%).

Para o presidente do Sindifrigo-MT, Paulo Bellincanta, o resultado confirma a solidez do setor e a mais uma vez, a ausência de impactos do chamado “tarifaço” norte-americano sobre a carne brasileira.

“O desempenho de Mato Grosso reforça a competitividade da nossa indústria frigorífica e a confiança dos mercados internacionais na qualidade da carne produzida aqui. Mesmo com o tarifaço imposto pelos Estados Unidos, não houve qualquer reflexo nas exportações. Os números mostram que o setor segue firme, diversificado e com presença consolidada em mais de 90 países. A tendência é de fechar o ano com novo recorde histórico, superando com folga os resultados de 2024”, avaliou.

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