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Produtores de hortaliças e frutas precisam se atentar ao uso correto de defensivos
Algumas culturas ainda têm suporte fitossanitário que geram dúvidas, por isso, especialistas dão dicas para ajudar os agricultores no manejo mais assertivo
Muito importante na produção agrícola, os defensivos exercem o papel de proteção das lavouras aos ataques de insetos, plantas daninhas e doenças que atingem o ciclo das culturas. Estes produtos podem ser classificados como sintéticos químicos (fungicidas, herbicidas, inseticidas, acaricidas, nematicidas e bactericidas), ou biológicos, que são desenvolvidos a partir de organismos ou substâncias naturais. Entretanto, mesmo com tantas opções de produtos no mercado, o suporte fitossanitário ainda é insuficiente para algumas culturas e isso gera muitas dúvidas a classe produtora.
De acordo com José Orlando Sartori, profissional que acumula 47 anos de experiência e atua como um consultor de assuntos regulatórios na multinacional Ascenza, esse tema gera dúvidas por duas razões básicas. A primeira delas é pela falta de produtos registrados, legalizados ou recomendados para controle de pragas, principalmente de pequenas culturas, como por exemplo cebolinha, salsinha, aveia, centeio, acerola e muitas outras. “Isso induz o agricultor a usar produtos aprovados para outro grupo de culturas para conseguir produzir. Quando a gente fala principalmente de hortaliças e frutas, é um universo, que tem muitas espécies e é praticamente impossível classificar todas”, destacou.
A segunda razão, de acordo com o especialista, é pelo uso inadequado dos produtos, ou seja, quando o agricultor não se atentar à dose máxima recomendada ou ao limite de aplicações. Outro agravante é não respeitar o intervalo de segurança, também conhecido por período de carência, que nada mais é do que o intervalo em dias entre a última aplicação até a colheita do produto.
Para que haja o registro um novo defensivo para uma cultura é necessário que a empresa fabricante comprove sua eficácia e apresente todos os estudos com limite máximo de resíduo. Conforme explica Manuela Dodo, gerente de assuntos regulatórios da companhia no Brasil, e que soma mais de 17 anos de experiência nesse mercado, todo esse processo necessita de um investimento relativamente alto e também demanda tempo para os estudos. “Esses dois fatores são os principais nessa dificuldade de abranger uma bula de um produto para diferentes culturas”, acrescenta.
Para tentar resolver essa questão em 2010, o Governo Federal publicou uma resolução que estabelece procedimentos para as Culturas Com Suporte Sanitário Insuficiente (CSFI). A partir de então houve uma divisão em sete grupos. Os cultivos foram organizados em: frutíferas com casca comestível e casca não comestível, hortaliças folhosas e ervas aromáticas, raízes de tubérculos, leguminosas e oleaginosas e cereais.
Com base nestes sete grupos, houve uma subdivisão em 17 subgrupos e determinou-se a nomeação de uma cultura que representasse as outras nessas divisões. Desta forma, ficou definido para essas “representantes” que todos os estudos de resíduos e os laudos de eficácia feitos nela se aplicariam às demais de cada subgrupo.
Por exemplo, a alface é uma cultura representativa do subgrupo das hortaliças folhosas. Os estudos de resíduo realizados para ela suportam o registro também para acelga, agrião, rúcula, chicória e outras, pela similaridade, tanto de aplicação quanto de ciclo.
“Dessa forma, o governo conseguiu resolver esse problema de culturas importantes, que pela questão do custo e por não terem áreas expressivas, ficavam em segundo plano”, disse o consultor.
De olho na bula
Para evitar o uso incorreto dos defensivos nas lavouras, o produtor deve seguir alguns pontos mais importantes. O primeiro passo é utilizar produtos autorizados pela Anvisa. Além disso, é fundamental seguir a indicação para cada cultura respeitando a dose recomendada, bem como o número máximo de aplicações e o intervalo de segurança.
Ao ignorar alguns desses parâmetros, a probabilidade de o plantio apresentar um resíduo acima do limite é grande e isso pode gerar sérias consequências. “Legalmente se isso ocorrer, essa cultura que apresenta resíduo acima do limite deveria ser destruída, pois não está apta à comercialização e consumo. Então, estaria trazendo um dano econômico enorme para o produtor e nem sempre ele tem consciência disso”, destacou Sartori.
Outro fator importante para seguir corretamente os protocolos de aplicação é a questão da rastreabilidade, algo que cada vez mais é exigido e valorizado pelo mercado. Por exemplo, hoje, muitas redes de supermercado exigem e exibem o QR Code nos alimentos. Por meio deles, conseguem fornecer aos clientes informações completas sobre a origem daquele determinado produto. “Tudo se movimenta em busca de segurança alimentar, que é o grande objetivo aqui, garantir que o produto final convencional seja entregue dentro dos níveis estabelecidos”, complementa a engenheira agrônoma e gerente de marketing da Ascenza, Patricia Cesarino.
Produção convencional x produção orgânica
O manejo orgânico é uma realidade e uma prática que tem conquistado um importante nicho de mercado. Contudo, com este modelo de produção que não utiliza defensivos químicos e é praticado em áreas menores, dificultando a produção em grande escala.
Por outro lado, o manejo convencional, que segue as boas práticas agrícolas respeitando o uso correto de aplicação defensivos, que utiliza produtos legalizados, consegue obter maior produtividade na agricultura de alta escala e consequentemente, gera maior oferta ao comércio.
“Seguindo os níveis de segurança, respeitando o limite de resíduo estabelecido é possível sim ter um produto seguro para o consumidor consumir e em um preço mais acessível”, destaca Manuela.
Sabendo a diferença entre produção orgânica e convencional, é importante destacar que são atividades distintas que na prática uma não irá substituir a outra, afinal são modelos de produções diferentes. “Existe espaço para as duas práticas, elas podem e devem coexistir e isso é muito produtivo”, finaliza Patricia.
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50 anos do Proálcool: o Brasil como potência verde
*Por Mário Campos, presidente da Bioenergia Brasil e SIAMIG Bioenergia
Em 14 de novembro de 1975, o governo brasileiro instituiu o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), uma resposta estratégica à crise mundial do petróleo e à forte dependência do país em combustíveis fósseis. Meio século depois, o programa se consolidou como um dos mais importantes marcos de política pública no setor energético, responsável por posicionar o Brasil entre os líderes globais em biocombustíveis.
Ao longo desses 50 anos, os resultados foram expressivos. O Proálcool reduziu a vulnerabilidade externa do país, impulsionou a agroindústria da cana-de-açúcar, fomentou a interiorização da produção e gerou milhares de empregos nas cadeias agrícola e industrial.
No campo ambiental, o etanol, cujo protagonismo nasceu com o Proálcool, transformou o Brasil em uma das nações com menor intensidade de carbono no setor de transportes leves. Atualmente, cerca de 45% desse mercado é atendido pelo etanol, contribuindo diretamente para a diminuição da poluição urbana e para a melhoria da qualidade de vida em nossas cidades.
O programa, ao transformar o país, também evoluiu para uma estratégia nacional de longo prazo. O etanol permanece como um dos principais vetores da transição energética brasileira. Esse amadurecimento se refletiu em políticas modernas, como o RenovaBio, o Combustível do Futuro e o programa Mover. Hoje, dispomos de metodologia científica robusta, a Análise de Ciclo de Vida, que quantifica emissões desde a produção até o uso dos combustíveis. Essa análise demonstra que a frota brasileira de veículos leves é a mais sustentável do mundo.
Às vésperas da COP30, o Brasil apresenta ao mundo um exemplo concreto e bem-sucedido de transição energética sustentável, não apenas teoria, mas resultados comprovados.
O país está preparado para compartilhar sua experiência e inspirar outras nações comprometidas com uma transição energética consistente, eficaz e duradoura. O Proálcool, ao completar meio século, reafirma o papel do Brasil como líder natural da economia verde global.
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Pesquisadores identificam principais soluções sustentáveis para combate de nematóides da soja
Os resultados da pesquisa constam na publicação internacional Plant Nano Biology
Principal grão da balança comercial brasileira, a soja é base essencial da alimentação animal e matéria-prima para produtos farmacêuticos, cosméticos e materiais de origem biológica. No entanto, a expansão da cultura no país tem sido ameaçada por nematóides parasitas de plantas (PPNs), microrganismos que atacam o sistema radicular, prejudicando a absorção de água e nutrientes, além de abrir caminho para infecções secundárias e, consequentemente, gerar um impacto econômico é expressivo, com perdas globais associadas ultrapassando a marca de US$ 150 bilhões por ano.
Durante décadas, o controle desses parasitas foi baseado principalmente no uso de nematicidas químicos, mas a baixa eficácia a longo prazo, a toxicidade ambiental e os riscos à saúde humana e animal têm restringido seu uso. Nesse cenário, pesquisadores vinculados ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nanotecnologia para Agricultura Sustentável (INCT NanoAgro) identificaram soluções de base biotecnológica que surgem como alternativas promissoras, especialmente quando associadas aos avanços da nanotecnologia.
Entre as estratégias mais promissoras estão os agentes biológicos (fungos nematófagos e bactérias antagonistas) e fitoquímicos nanoencapsulados, que aumentam a eficácia e a durabilidade dos tratamentos, protegendo os compostos ativos da degradação e garantindo sua liberação direta na zona radicular, onde os nematóides concentram sua ação. Complementando essas abordagens, a interferência por RNA (RNAi) surge como uma tecnologia inovadora, capaz de silenciar genes essenciais dos nematóides e reduzir sua capacidade de infestação, embora ainda exija estudos sobre estabilidade no solo e segurança para organismos não-alvo.
Além das soluções tecnológicas, práticas culturais como rotação de culturas, manejo adequado do solo e utilização de cultivares resistentes contribuem para reduzir a pressão dos nematóides e aumentar a resiliência da soja. A combinação dessas frentes — nanotecnologia, agentes biológicos, RNAi e estratégias agrícolas — configura um manejo integrado e sustentável, capaz de reduzir perdas e minimizar impactos ambientais.
Segundo os pesquisadores, os próximos desafios incluem a validação em condições de campo, a redução de custos de produção e a otimização de formulações escaláveis, garantindo que essas soluções inovadoras possam ser adotadas de forma prática pelos produtores. “A integração entre nanotecnologia e biotecnologia representa, portanto, um caminho viável e promissor para o manejo sustentável dos nematóides da soja, alinhando produtividade, eficiência e preservação ambiental e abrindo espaço para uma nova era de agricultura inteligente e ecologicamente responsável”, concluem.
Os resultados do levantamento de soluções foram publicados na revista científica internacional Plant Nano Biology: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2773111125000622.
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Pinus: o mais brasileiro entre os estrangeiros
*Por Daniel Chies, Jose Mario Ferreira e Fabio Brun
O Brasil é mestre em melhorar o que vem de fora. O gado nelore, por exemplo, originário da Índia, tornou-se a principal raça bovina do país. A soja, hoje um dos produtos mais exportados, chegou por aqui em 1882, vindo da China. O milho veio do México, o trigo da Mesopotâmia. O Eucalipto veio da Oceania. E assim seguimos, cultivando com excelência o que um dia foi exótico.
No universo das plantas não comestíveis, o fenômeno se repete. Muitas flores e espécies ornamentais, por exemplo, que embelezam nossos jardins, são estrangeiras, mas tão queridas quanto as nativas. Quando passamos para a escala industrial, destacamos a árvore de pinus, uma estrangeira que encontrou no Brasil, especialmente na Região Sul, seu lar ideal.
O cultivo comercial do gênero Pinus começou no Brasil no final dos anos 1970, com um objetivo claro: fornecer madeira para a indústria. E deu certo. O pinus taeda, principal espécie utilizada, encontrou nas condições edafoclimáticas do Sul do país um ambiente perfeito para crescer com vigor. Graças ao melhoramento genético e à tecnologia florestal, o Brasil alcançou os melhores índices de produtividade do mundo para essa espécie.
Segundo o levantamento mais recente da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), em 2024 o país contava com 1,9 milhão de hectares de florestas plantadas de pinus. A Região Sul concentra cerca de 1,69 milhão de hectares, distribuídos entre Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
A madeira de pinus está presente em nosso cotidiano de formas que muitas vezes passam despercebidas. Ela compõe papel, caixas de papelão, móveis, portas, brinquedos, utensílios domésticos e estruturas diversas. Os pellets de madeira, por exemplo, são uma fonte de energia renovável cada vez mais utilizada globalmente.
E não para por aí. A celulose extraída do pinus é usada em cápsulas de medicamentos, na indústria alimentícia e até na automobilística. Com a nanocelulose e a lignina, surgem aplicações inovadoras: superfícies impermeáveis, essências e até pele artificial. O potencial é imenso e estamos apenas no começo.
Em um mundo que exige soluções com menor impacto ambiental, as florestas plantadas para fins industriais se mostram uma alternativa viável e estratégica. Durante seu crescimento, as árvores de pinus capturam carbono da atmosfera, que permanece sequestrado nos produtos derivados por décadas ou até séculos.
Além disso, quase toda a área plantada na Região Sul possui certificações internacionais que garantem práticas rigorosas de responsabilidade social e ambiental. As empresas do setor preservam cerca de 30% da vegetação nativa nos três estados, demonstrando compromisso com o equilíbrio ecológico.
O pinus escolheu o Sul do Brasil para prosperar e foi bem acolhido. As empresas de silvicultura da região atuam com responsabilidade e visão de futuro, adotando práticas ambientais, sociais e de governança muito antes do termo ESG se tornar tendência. Por isso, a madeira de pinus brasileira é reconhecida internacionalmente pela sua qualidade e sustentabilidade.
Essa é uma história de sucesso que começou há décadas e continua a crescer, como as próprias árvores que a protagonizam. O pinus pode não ser brasileiro de origem, mas já é parte essencial do nosso presente e, com certeza, do nosso futuro.
- *Daniel Chies é presidente da Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), Jose Mario Ferreira é presidente da Associação Catarinense de Empresas Florestais (ACR) e Fabio Brun é presidente da Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (APRE Florestas).
