Destaque
A relevância das eleições municipais para o agronegócio brasileiro
*Leandro Viegas
Quando se fala em política, ainda há relutância de parte da população em se ter um diálogo aberto sobre o assunto. Este é um tema evitado em muitas casas e rodas de amigos. Mas, este ano vamos novamente colocar a democracia em ação e eleger para mais quatro anos, prefeitos e vereadores. Então essa é exatamente a hora de falarmos sobre.
Mais do que falar, destaco que as eleições municipais podem parecer bem distantes das fazendas e lavouras que compõem a espinha dorsal do agronegócio brasileiro, mas não é. Segundo o Instituto de Pesquisa Aplicada Econômica (IPEA), o setor fechou o primeiro trimestre deste ano com superávit acumulado de US$ 32,23 bilhões, crescimento de 2,8% em relação ao mesmo período do ano anterior. As exportações do setor somaram US$ 36,83 bilhões. Nem estamos aqui falando dos números de cada região e cidade, mas dá para ter noção do peso que isso representa.
A verdade é que a liderança local tem um impacto profundo e direto, tanto na operacionalização, quanto no ambiente regulatório que envolve este setor vital. A participação ativa e consciente do agro nas políticas locais transcende a mera proteção de interesses próprios, promovendo uma integração que pode beneficiar amplamente tanto o setor quanto as comunidades locais.
Aqueles que forem eleitos têm o poder de influenciar significativamente o agronegócio através de políticas de infraestrutura, regulamentações ambientais e licenciamentos. As decisões tomadas nos paços municipais afetam diretamente a qualidade das estradas rurais, os serviços de armazenagem e a eficiência dos processos logísticos fundamentais para a movimentação de produtos agrícolas. Em um país de dimensões continentais como o Brasil, onde cada região possui suas peculiaridades agrícolas e desafios logísticos próprios, a adaptação e suporte local são então atores principais nesse cenário.
Recentemente, uma polêmica envolvendo a pulverização agrícola aérea no Maranhão destacou a importância das decisões locais. O Ministério Público recomendou que as Câmaras de Vereadores aprovassem projetos proibindo essa prática, causando debates intensos. Cláudio Júnior Oliveira, diretor operacional do Sindag, ressaltou que essas recomendações não são obrigatórias, mas geram desinformação e medo sobre a atividade, que é regulamentada e fiscalizada rigorosamente. A proibição pode impactar negativamente a produção agrícola e a economia regional, como visto no Ceará, onde a produtividade caiu drasticamente após a proibição da aviação agrícola.
Por isso destaco que quando o agronegócio e os papéis nele envolvidos se engajam ativamente nas eleições e na formulação de políticas municipais, não só se asseguram de que suas necessidades sejam ouvidas, mas também acaba causando impacto no desenvolvimento sustentável. Este engajamento pode resultar na ampliação de mais e melhores políticas que incentivam essas práticas agrícolas sustentáveis, promovem a conservação ambiental e fomentam a inovação tecnológica através de parcerias com instituições educacionais locais.
A atuação conjunta entre o setor e a gestão municipal pode levar à implementação de projetos de desenvolvimento rural que beneficiam tanto os próprios agricultores e suas famílias, quanto a população de modo geral. Isso inclui desde a criação de programas de treinamento em novas tecnologias agrícolas até a melhoria dos sistemas de saúde e educação no campo, elevando a qualidade de vida e promovendo a equidade social.
A capacitação técnica dos líderes locais também é essencial para que as políticas implementadas sejam eficazes. Sem o conhecimento adequado, decisões importantes podem ser baseadas em desinformação, como exemplificado no caso da proibição da aviação agrícola. É fundamental que os políticos sejam bem-informados e recebam treinamento específico sobre as necessidades e práticas do agronegócio.
No entanto, a colaboração eficaz exige transparência, responsabilidade e uma visão de longo prazo tanto dos líderes empresariais quanto dos políticos. As empresas do agro devem se posicionar como parceiros da comunidade, e não apenas como entidades focadas no lucro, promovendo um diálogo aberto sobre como suas operações e os desenvolvimentos regionais podem coexistir harmoniosamente.
As eleições municipais são, portanto, um evento de significativa importância para o meio agropecuário e para as comunidades envolvidas. Uma participação ativa e informada do setor nas decisões políticas locais não é apenas uma boa prática empresarial; é uma necessidade para garantir que o crescimento econômico do agro ande de mãos dadas com o desenvolvimento sustentável e o bem-estar das comunidades que circundam e sustentam este setor. Como líderes empresariais e cidadãos, a escolha de candidatos comprometidos com o equilíbrio entre desenvolvimento econômico e responsabilidade social e ambiental nunca foi tão crucial.
Cada voto e cada política implementada tem o potencial de moldar o futuro não só de uma cidade, mas de todo um setor que é pilar da economia nacional.
*Leandro Viegas é Administrador, bacharel em Direito e CEO da Sell Agro.
Destaque
Mapeamento inédito revela poder do amendoim no Brasil
Estudo da ABEX-BR quantifica a cadeia do amendoim e confirma: Brasil é o 3º mais eficiente do mundo em produtividade
A Associação Brasileira do Amendoim (ABEX-BR) anuncia o lançamento do livro “Mapeamento e Quantificação da Cadeia do Amendoim Brasileiro”, o primeiro estudo no país a oferecer um raio-x completo do setor, desde o produtor até o exportador, com dados inéditos da safra 2024/2025.
O evento de lançamento será realizado no dia 3 de dezembro, às 14h, em Ribeirão Preto/SP, e marcará a disponibilização de informações que comprovam a relevância da leguminosa no cenário nacional.
Um dos destaques da pesquisa revela que o setor movimentou um faturamento total de R$ 18,6 bilhões no último ano, consolidando o amendoim como um player de grande porte e de alto impacto socioeconômico para o país.
“Este mapeamento é um divisor de águas para toda a cadeia. Pela primeira vez, temos uma visão completa e quantificada do nosso impacto. Com R$ 18,6 bilhões em faturamento, a importância do amendoim ultrapassa o campo e chega à mesa de negociação de grandes instituições. Temos dados concretos para guiar investimentos, estruturar linhas de crédito e influenciar políticas públicas que sustentem a nossa eficiência produtiva, que já é a 3ª maior do mundo”, afirma Cristiano Fantin, presidente da ABEX-BR.
Um raio-x socioeconômico para o desenvolvimento setorial
O estudo vai além dos números de produção. Ele compila dados socioeconômicos detalhados que interessam não só ao público em geral – que acompanha a geração de riqueza e emprego – mas, principalmente, a órgãos reguladores, ao setor financeiro e ao mercado de seguros.
O livro oferece uma visão completa da safra 2024/2025 e servirá como base fundamental para o poder público, setor financeiro e de seguros na hora de regular a produção, formatar linhas de crédito e oferecer garantias de safra com precisão.
“Com este livro, a ABEX-BR cumpre seu papel de levar ciência e inteligência para todos os elos da cadeia, do produtor ao beneficiador. Esta é a nossa ferramenta para falar ‘para dentro’ do setor e ‘para fora’, com o governo, mostrando a capacidade de geração de valor, emprego e renda que o amendoim tem. É um setor que mais que triplicou o volume de produção na última década e precisa de informações à altura do seu crescimento”, conclui Cristiano Fantin.
O livro “Mapeamento e Quantificação da Cadeia do Amendoim Brasileiro” foi financiado pelo Núcleo de Promoção e Pesquisa (NPP) da ABEX-BR e estará disponível para download durante seu lançamento. A pesquisa foi realizada pela Markestrat, consultoria especializada em agronegócio.
Destaque
Nova geração de leveduras eleva rendimento do etanol em até 6%
Ganhos podem chegar a R$ 30 milhões por safra
Avanços recentes em bioengenharia apontam para um salto inédito na produtividade do etanol, impulsionado por novas cepas de leveduras industriais. Pesquisadores da Lallemand Biofuels & Distilled Spirits (LBDS), nos Estados Unidos, registraram um aumento de até 6% na conversão da cana em etanol em relação às leveduras convencionais.
Segundo cálculos da LBDS, uma biorrefinaria com capacidade de produção diária de 1.000 m³ de etanol, poderia aumentar sua lucratividade em até R$ 30 milhões por safra, considerando o preço atual do etanol anidro. Os ganhos de eficiência têm relação com a nova geração de leveduras biotecnológicas, que expressam de 40% a 55% menos subprodutos, como o glicerol, comparado às leveduras comuns.
“As pesquisas têm encontrado formas de tornar mais eficiente o açúcar disponível para a síntese de etanol, reduzindo perdas metabólicas e aumentando a produtividade da fermentação”, explica Fernanda Firmino, vice-presidente da LBDS na América do Sul. Ela destaca ainda que o desempenho da nova tecnologia é cerca de 20% superior ao das cepas biotecnológicas LBDS já disponíveis no mercado.
Elisa Lucatti, gerente de aplicações da LBDS, afirma que o ganho de rendimento aliado à robustez tem sido o diferencial das cepas biotecnológicas. “As biorrefinarias sucroalcooleiras no Brasil, historicamente, enfrentam dificuldades operacionais que desafiam a permanência de leveduras no processo industrial. Assim, não é só rendimento que importa, mas estabilidade operacional que corrobora com economia de insumos”, diz.
A persistência das leveduras biotecnológicas no processo sucroalcooleiro tem recebido destaque especial. Em sistemas de fermentação contínua, conhecidos pelo alto desafio microbiológico, a geração de levedura atual já apresentou persistência superior a 200 dias sem necessidade de reinoculação, resultado inédito no país. A expectativa é que as novas versões ampliem ainda mais esse desempenho, podendo chegar à safra toda.
A empresa reforça, porém, que o aproveitamento do potencial das novas cepas está diretamente ligado à qualidade do processo, especialmente no controle de temperatura e procedimentos eficazes de limpeza. “Nossos mais de 10 anos de implementação conjunta aos times de operação das usinas de etanol de cana-de-açúcar comprovam que as unidades que possuem boas práticas operacionais, principalmente eficiência no CIP, são capazes de maximizar e atingir resultados recordes com leveduras de alta performance”, diz Lucatti.
Uma realidade que fazia parte somente do etanol de milho passou a fazer parte do setor sucroalcooleiro. Segundo a avaliação econômica da Lallemand, a evolução da engenharia genética, em pouco mais de uma década, aumentou em 1.300% os ganhos na produção de etanol de milho, de R$ 4/t, em 2012, para R$56/t, em 2024, abrindo um grande caminho para o mercado de etanol de cana-de-açúcar que encontrava-se estagnado.
Nos últimos anos, a companhia intensificou investimentos em bioengenharia aplicada ao metabolismo fermentativo, com foco em elevar a produtividade, reduzir custos operacionais e ampliar o desempenho ambiental das usinas. Desde 2010, tem sido investido mais de U$$ 100 milhões em pesquisas e desenvolvimento de soluções biotecnológicas.
Os maiores grupos sucroenergéticos do Brasil já são clientes da LBDS, que mira expansão em toda a América do Sul. “Estamos vivendo uma nova fase na bioindústria. O foco é maximizar o potencial biológico dentro da infraestrutura existente e reduzir os impactos ambientais, produzir mais utilizando menos. Isso só é possível com a implementação da bioengenharia de precisão”, afirma Firmino.
Destaque
Setor agropecuário comemora fim das sobretaxas dos Estados Unidos
Presidente da Faesp alerta, entretanto, que é preciso reforçar a diplomacia e buscar
sempre novos mercados para garantir a rentabilidade do produtor
A decisão do governo americano de suspender, na última quinta-feira (20), as sobretaxas
sobre as importações de mais de 60 itens da lista de produtos agropecuários
brasileiros representa um avanço significativo para o comércio bilateral e para a
dinâmica do agronegócio nacional. Ao aliviar um peso financeiro relevante sobre itens
como carne, soja, frutas e commodities diversas, os Estados Unidos reabrem espaço
para que produtores brasileiros ampliem sua presença em um dos mercados mais
competitivos e lucrativos do mundo. Essa medida demonstra reconhecimento da
qualidade e da importância estratégica dos produtos do campo brasileiro no cenário
global.
Segundo o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São
Paulo (Faesp), Tirso Meirelles, além do impacto econômico direto, a suspensão das
sobretaxas traz um elemento fundamental para o planejamento das atividades rurais:
previsibilidade. Em um setor profundamente sensível às oscilações externas — seja
de preços, custos logísticos ou barreiras comerciais —, a possibilidade de operar com
maior clareza sobre as condições de acesso ao mercado internacional permite que
agricultores e pecuaristas invistam melhor, negociem com mais segurança e
organizem sua produção de forma mais eficiente.
“Essa notícia reforça a importância do setor agropecuário brasileiro no contexto
global. A tarifas extras penalizavam não apenas o produtor nacional, mas também os
consumidores americanos, que viram sumir das prateleiras de supermercados
alimentos que fazem parte da rotina diária das famílias e onde eles reconhecem
qualidade. É uma vitória importante do agro”, frisou Meirelles.
Antonio Ginack Junior, da Comissão de Bovinocultura de Corte da Faesp, comemorou
a decisão, mas ressaltou que os produtores precisam estar atentos para o futuro.
Segundo ele, “a taxação foi fantástica para o mercado brasileiro pois assim os
vendedores de carne bovina tiveram que sair da zona de conforto para abrir novos
mercados. E abriram! Com isso o preço da arroba ao ser taxada pelos Estados
Unidos, ao invés de cair, aumentou aqui no Brasil”.
“A notícia é muito boa, já que os Estados Unidos são grandes importadores de café
do Brasil. A preocupação era que eles procurassem outras origens devido as tarifas,
fazendo com que trabalho de anos do setor fosse desfeito. Para o setor cafeeiro a
decisão traz a certeza de voltaremos a exportar forte para o mercado americano”,
explicou Guilherme Vicentini, coordenador da Comissão de Cafeicultura da Faesp.
Outro fator relevante é que a medida fortalece a confiança nas relações comerciais
entre Brasil e Estados Unidos. O gesto do governo americano sugere disposição para
o diálogo e para a cooperação, reduzindo tensões e abrindo espaço para acordos
mais amplos no futuro. Essa sinalização positiva tende a beneficiar não apenas o
agronegócio, mas também outros setores da economia que dependem de relações
externas estáveis e transparentes.
Ainda assim, a decisão do governo americano não deve ser interpretada como uma
garantia definitiva. O episódio do tarifaço — com sobretaxas que chegaram a impactar
significativamente a competitividade brasileira — funciona como um alerta importante
para a vulnerabilidade de países exportadores diante de mudanças políticas e
conjunturais. A dependência excessiva de poucos mercados torna produtores e
governos mais suscetíveis a riscos geopolíticos e disputas comerciais que fogem ao
seu controle.
A suspensão das sobretaxas, entretanto, deve ser acompanhada por uma estratégia
mais ampla de diplomacia econômica ativa e da construção de novas parcerias
internacionais. Diversificar mercados, ampliar acordos comerciais e investir em
inovação e qualidade são caminhos essenciais para garantir que os produtos
brasileiros continuem competitivos no cenário global. Somente assim será possível
assegurar a rentabilidade dos produtores rurais e fortalecer a posição do Brasil como
um dos grandes protagonistas do agronegócio mundial.
