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Estudo econômico identifica mudanças necessárias do uso da terra no cultivo de soja no Matopiba
Iniciativa liderada pela Fundação Solidaridad mapeou durante duas safras regiões produtoras nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia com o objetivo de apontar mecanismos e modelos que viabilizem a expansão sustentável
Considerada a grande fronteira agrícola, a região de Matopiba – formada pelo Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – ocupa uma área total de 73 milhões de hectares. Com topografia plana propícia à mecanização, solos profundos e ácidos, mas com facilidade de correção, disponibilidade de água e clima favorável, o Matopiba foi alvo de uma corrida por áreas e gerou forte valorização do preço das terras. Com alto crescimento, hoje a região já é responsável por quase 12% da produção nacional de soja, o que gera preocupação, principalmente ambiental devido à expansão para áreas de vegetação nativa, que podem sofrer danos irreversíveis.
Com o objetivo de entender a atual dinâmica do uso da terra pelos agricultores e agricultoras, considerando as variáveis econômicas nas principais regiões de expansão da soja, a Fundação Solidaridad lança o Estudo econômico sobre a mudança do uso da terra em regiões produtoras de soja no Matopiba. A pesquisa, que contou com a colaboração da consultoria Agroicone, aponta alternativas de modelos de negócios para viabilizar a expansão de forma mais sustentável, conciliando rentabilidade com conservação do meio ambiente.
De acordo com Paula Freitas, Gerente de Cadeias Produtivas e Estratégias da Fundação Solidaridad, o estudo inédito ajudou a identificar o atual cenário do Matopiba, especialmente sobre a dinâmica da expansão agrícola no Tocantins e na Bahia. “Trabalhamos pensando sempre na produção sustentável. Por isso, o objetivo foi mostrar quais seriam os mecanismos financeiros ou combinações que poderiam gerar ao produtor alternativas de incremento na produtividade, mantendo o cultivo de soja em áreas já abertas e não avançando sobre a vegetação nativa”, detalha.
CONCLUSÕES
Ao longo do estudo, foi possível entender a dinâmica da expansão da soja no Matopiba, além de mensurar financeiramente o ganho do produtor em diferentes cenários. Adicionalmente, foram avaliados diferentes mecanismos como alternativas para cobrir o custo de oportunidade.
Para Camila Santos, Coordenadora do Programa Soja e especialista em carbono da Fundação Solidaridad, nota-se que não há um mecanismo único para impulsionar a adoção de práticas sustentáveis da sojicultura no Matopiba, mas uma combinação de diversas ações. Segundo a especialista, há a necessidade de esforços por parte do setor produtivo e do governo para encontrar caminhos possíveis para orientar e fomentar a expansão agropecuária sobre áreas abertas, preservando aquelas com vegetação nativa.
“No caso da soja, a indústria deve avançar em compromissos para reduzir o desmatamento e as emissões de carbono, criando e fortalecendo arranjos com produtores. Isso inclui pagamentos por Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e créditos de carbono, além de incentivar o aumento de produtividade por meio de tecnologias como o Sistema de Plantio Direto (SPD) e a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF)”, conta.
Paula Freitas destaca a importância da implementação do Código Florestal para a preservação da vegetação e apoio à produção sustentável, ajudando a reduzir a incerteza jurídica que afeta negativamente o setor produtivo. Além disso, a infraestrutura de armazenamento e de logística são questões imprescindíveis, e podem se tornar obstáculos à expansão da soja sobre as áreas de pastagens. “Devemos pensar a longo prazo, considerando as gerações futuras, conscientes da importância de garantir a resiliência da produção e a preservação dos ecossistemas. Conciliar produção de grãos e criação da pecuária em harmonia com a conservação é essencial para garantir a sustentabilidade da agropecuária no futuro”, considera.
MECANISMOS FINANCEIROS
Para melhor entendimento dos cenários, o estudo foi dividido em quatro etapas. A primeira abordou os mecanismos financeiros para expansão da soja e a implantação das práticas agrícolas de baixo carbono no Tocantins e no Oeste da Bahia. Como o crédito rural é a principal ferramenta de política pública para fomento do setor agropecuário, bem como a forma mais utilizada pelos produtores para financiar a produção, a pesquisa apontou que, nos últimos quatro anos-safra, os recursos contratados pelos produtores aumentaram 88%, passando de R$ 190 bilhões para R$ 357 bilhões.
De acordo com Camila, o crédito é um ponto muito importante a ser analisado diante do expressivo aumento no uso dos recursos. “O estudo revela uma grande oportunidade para que as instituições bancárias ofereçam créditos para práticas mais sustentáveis e a preservação da vegetação. E que essas instituições passem a financiar a expansão da soja em áreas já abertas, como as de pastagens degradadas”, diz.
Segundo Paula, devido ao potencial agrícola e a consequente valorização das terras na região, a compra e venda de fazendas se tornou um negócio atrativo e rentável. “Podemos concluir que diante da atual conjuntura de elevado preço das terras já ‘abertas’, tem sido economicamente viável o avanço da produção sobre áreas nativas. Por isso a importância de modelos econômicos e mecanismos financeiros que fomentem a expansão sustentável”, observa.
CUSTO COM MELHORES PRÁTICAS
Na segunda etapa, foram identificados os custos de oportunidades em diferentes cenários com a adoção de práticas de baixo carbono, além de terem sido feitas comparações nas regiões de expansão da soja. A dinâmica de conversão do uso do solo nos últimos anos também foi analisada, a fim de quantificar a área ocupada pelas lavouras de soja, pastagem e vegetação nativa. Adicionalmente, os padrões de expansão foram mapeados e analisados por meio da matriz de transição de uso do solo do MapBiomas, considerando as áreas aptas e informações do passivo e ativo ambientais.
A pesquisa apontou que os modelos financeiros de expansão da oleaginosa, praticados sobretudo na Bahia e no Tocantins, não são economicamente atraentes. Além disso, os demais modelos de expansão avaliados – compra de excedente de vegetação na Bahia e de expansão sobre excedente de vegetação nativa na propriedade em Tocantins – apresentaram indicadores econômicos favoráveis. ”Esses dados indicam que há uma valorização das terras já abertas, o que pode incentivar a expansão para áreas de vegetação nativa. Por isso a importância de políticas públicas eficazes e de uma melhor organização do setor. Assim, seria possível reduzir a pressão sobre o Cerrado, contribuindo para sua preservação”, afirma Camila.
CONVERSÃO DE PASTAGENS
Na terceira etapa, as barreiras e as oportunidades na conversão de pastagens degradadas na agricultura foram identificadas e analisadas, sob a perspectiva de mecanismos financeiros tradicionais. Foram apresentadas sugestões de ajustes de crédito rural e políticas públicas que possam promover a expansão da soja em áreas já abertas, após identificar que os mecanismos existentes não estão sendo efetivos.
Entre os cenários, foram abordados a oferta da assistência técnica e incentivo à adição de Brachiaria, redução da taxa de juros do crédito rural de custeio, de investimento e do barter, além do aumento do prazo de carência das linhas de crédito rural. Dessa forma, possibilita ao produtor um menor impacto em seu fluxo de caixa nos anos iniciais.
A quarta e última etapa, nomeada de business case, considerou os mecanismos financeiros e não financeiros para a expansão sustentável da soja em regiões produtoras. O objetivo foi estruturar cenários para a expansão do grão em áreas abertas – seja pela produção agrícola ou pecuária -, tornando-os financeiramente competitivos se comparados aos de avanço sobre a vegetação nativa.
SÉRIE DE ESTUDOS NO MATOPIBA
O primeiro estudo da Fundação Solidaridad no Matopiba foi divulgado em 2021, com enfoque sobre a dinâmica territorial da soja, mapeando o aumento da produção aliada à conservação do bioma. A publicação Potencial regional de expansão da soja no Matopiba revelou um conjunto de quase 50 municípios que pode absorver 67% do aumento previsto na produção conservando as áreas de vegetação nativa. Ainda que a região possua 6,6 milhões de hectares de áreas de pastagem com aptidão agrícola, sendo 4 milhões de hectares de pastagens degradadas, ainda há 4,6 milhões de hectares de Excedente de Reserva Legal (ERL) em áreas com aptidão agrícola.
Em 2022, foi lançada a pesquisa Balanço de carbono na produção de soja do Matopiba, que analisou o estoque de carbono nas áreas com vegetação nativa e os cenários melhorados em função das práticas de manejo adotadas e mudanças de uso da terra nas áreas cultivadas. Os dados revelaram oportunidades para produtores e empresas do setor, comprovando que é possível manter a rentabilidade com a adoção de práticas de baixo carbono.
SOBRE A FUNDAÇÃO SOLIDARIDAD
A Fundação Solidaridad é uma organização internacional da sociedade civil que atua há 15 anos no Brasil para o desenvolvimento de cadeias agropecuárias socialmente inclusivas, ambientalmente responsáveis e economicamente rentáveis. Busca acelerar a transição para uma produção inclusiva e de baixo carbono, contribuindo para a segurança alimentar e climática do país e do mundo. Atualmente desenvolve com seus parceiros iniciativas de sustentabilidade nas seguintes cadeias: cacau, café, cana-de-açúcar, erva-mate, laranja, pecuária e soja.
Globalmente, a Solidaridad conta com mais de meio século de atuação em mais de 50 países. Promove parcerias e soluções inovadoras junto a governos, organizações, cooperativas e empresas para apoiar produtoras e produtores rurais a produzir melhor e reduzir o impacto climático da produção de alimentos. Sua missão é garantir a transição para uma economia inclusiva e sustentável, que maximize o benefício para as pessoas e o planeta.
Destaque
Agricultores apostam em novas tecnologias para superar a instabilidade climática; veja dicas para planejar a safra
Ferramentas tecnológicas, além de ajudarem a reduzir os impactos do clima nas lavouras, auxiliam os produtores na tomada de decisões mais assertivas
Com um começo de safra bem conturbado, principalmente pelo atraso no plantio nas principais regiões produtoras devido à instabilidade climática, aos poucos os agricultores brasileiros seguem avançando com a semeadura da temporada 2024/25. Mesmo com as adversidades iniciais, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mantém a estimativa de produção de 322,47 milhões de toneladas de grãos. Diante deste cenário de incertezas recorrentes, causadas pelas mudanças climáticas, cada vez mais se faz necessário estar preparado para as adversidades. E a forma mais segura é com um rigoroso planejamento.
De acordo com Wellington Sena, executivo técnico de negócios da GAtec, unidade de negócios da Senior Sistemas – multinacional referência em soluções de gestão, o atraso de plantio, como vivenciado em muitas regiões, pode gerar muitos reflexos não somente na safra a ser semeada, mas também para as futuras. “Ou seja, quanto maior o adiamento do plantio, mais estreito será a janela da próxima semeadura, seja safrinha ou cultura de inverno. Esse problema causa um efeito em cadeia, comprometendo o cronograma original planejado”, destacou.
Em cenários assim, o produtor precisa agir rápido, refazer as contas, recalcular a rota, analisar as possibilidades de minimizar esses impactos e ainda recuperar o tempo perdido. “Quando existe atraso maior no plantio da cultura principal, há a possibilidade de o agricultor, por exemplo, trocar o milho safrinha por outra cultura de ciclo mais curto. Contudo, é preciso fazer as contas da rentabilidade para ver se é viável”, explica Sena.
Tecnologias como aliadas
Para ser assertivo nessas escolhas, é fundamental, primeiramente, que o produtor tenha acesso aos dados de sua fazenda. Desta forma, com auxílio de tecnologias de gestão já disponíveis no mercado, ele terá subsídios para escolhas corretas e decisões rápidas. Entre essas soluções, a GAtec by Senior disponibiliza o SimpleFarm, um software multiplataforma que atende, em uma única base, produtores de culturas anuais, semi-perenes e perenes.
Com o módulo de Gestão de Safra, por exemplo, o produtor consegue armazenar as informações cadastrais com o objetivo de rastrear todos os processos. A ferramenta possibilita ainda o controle do levantamento de pragas, traz informações do clima, auxilia no controle de produção, área plantada, entre outros benefícios. Todas as informações contidas nas áreas agrícolas são divididas em seis níveis: por empresa, safra, setor, fazenda, bloco e talhões, sendo o talhão a menor unidade de controle. “O nosso sistema foi desenvolvido pensando justamente em proporcionar agilidade ao produtor e sua equipe nos momentos mais difíceis do dia a dia no campo”, detalhou o especialista.
Ainda segundo Sena, a empresa também oferece ferramentas que auxiliam desde o começo do planejamento até a organização do uso dos recursos, tanto de hora-máquina quanto de mão de obra e insumos. Desta maneira, é possível reorganizar o planejamento e simular novos cenários com o ambiente atual, alterar o ciclo da cultura, mudar a variedade, reorganizar a compra de insumos, entre outras possibilidades. “Com o sistema atualizado e bem alimentado de informações, o agricultor pode fazer todos os ajustes necessários no decorrer da safra com segurança e maior assertividade”, destacou.
Detalhes que fazem a diferença
O planejamento de safra de grãos exige um olhar atento a diversos fatores. Além das tecnologias utilizadas, como mencionado, vale atenção desde o pré-plantio até o pós-colheita. A chave para o sucesso é a integração de práticas agrícolas eficientes, o uso inteligente das ferramentas disponíveis e uma boa gestão de riscos. Ao seguir algumas dicas, a fazenda estará mais próxima de atingir uma safra produtiva, rentável e sustentável.
Análise do solo e definição de culturas
Este manejo consiste em um conjunto de procedimentos que avaliam as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. Quando equilibrados, fornecem às plantas as condições necessárias para melhor desenvolvimento. Quanto à escolha da cultura, o agricultor pode definir o que será plantado com base em fatores como demanda de mercado, resistência a doenças e pragas, clima da região e capacidade de adaptação do solo. Além disso, pode por aquelas culturas que se adaptem melhor às condições climáticas e ao tipo de solo da sua região.
É fundamental também, atenção à semente adquirida. Este insumo precisa ser de alta qualidade e, se possível, com tecnologia de resistência a pragas ou herbicidas, o que pode reduzir custos com defensivos e ajudar a ter eficiência no plantio.
Rotação de culturas
Planejar uma rotação de culturas é importante para a preservação do solo e para evitar o esgotamento dos nutrientes. Além disso, este manejo ajuda a reduzir o risco de doenças e pragas. O uso de culturas de cobertura no período entre safra também pode ajudar a proteger o solo contra erosão, aumentar a matéria orgânica e controlar plantas daninhas.
Gestão do clima e irrigação
Acompanhe as previsões climáticas e prepare-se para eventos como secas ou chuvas excessivas. Isso pode influenciar a escolha do melhor período de plantio e o uso de sistemas de irrigação. Se a região depende de irrigação, invista em sistemas eficientes (como gotejamento ou pivô central) para garantir o uso racional da água.
Planejamento de insumos
Elabore um planejamento de compra de fertilizantes e defensivos agrícolas. A compra antecipada pode ajudar a reduzir custos, mas também é importante ajustar conforme as necessidades da safra. Tenha ainda um controle rigoroso sobre os custos de produção, incluindo insumos, mão de obra, combustível e outros gastos. Isso ajuda a garantir que o planejamento financeiro esteja alinhado com as projeções de receita.
Controle de pragas e doenças
Realize um monitoramento constante das lavouras para identificar sinais de pragas e doenças o mais cedo possível. A prevenção é sempre mais eficaz do que o controle posterior. Entre as técnicas disponíveis, destaca-se o Manejo Integrado de Pragas (MIP). A estratégia de manejo utilizando métodos químicos, biológicos e culturais ajuda a minimizar os danos causados por pragas.
Previsão de colheita e mercado
Defina o período de colheita com antecedência e tenha um plano para armazenar ou comercializar a produção. Se possível, faça acordos com compradores antecipados para garantir melhores preços. Paralelamente, acompanhe o mercado e as tendências de preços. Isso pode ajudar a decidir o momento certo para vender ou armazenar a produção, buscando maximizar a rentabilidade.
Gestão de riscos
Considere a contratação de seguros agrícolas para se proteger contra perdas decorrentes de fenômenos climáticos extremos, como secas prolongadas ou geadas. Também é recomendável uma reserva financeira para enfrentar imprevistos durante o ano, como quebras de safra, flutuação de preços ou aumento inesperado de custos.
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O que ganha o agro com o resultado das eleições municipais?
*Por Leandro Viegas
As eleições para prefeitos e vereadores no Brasil, que aconteceram em outubro deste ano, trouxeram um cenário de expectativas e incertezas para o agronegócio, que há décadas ocupa posição de destaque na economia nacional. A análise dos resultados revela algumas tendências e possíveis implicações para o futuro próximo, refletindo um equilíbrio de interesses que pode beneficiar o setor, embora com desafios consideráveis.
Primeiro, a manutenção de uma bancada ruralista robusta no Congresso é um ponto favorável. Esse grupo parlamentar, que historicamente apoia políticas de desoneração fiscal, subsídios e investimentos em infraestrutura, poderá continuar promovendo pautas benéficas para o setor. Esse suporte é essencial para manter a competitividade brasileira no mercado global de commodities, especialmente em um contexto de crescente concorrência e volatilidade dos preços.
Contudo, a eleição de candidatos com agendas ambientalistas mais rígidas, em alguns estados-chave, pode significar um aumento da pressão regulatória. Isso exige que o setor invista em práticas de conformidade ambiental e sustentabilidade, pois o Brasil está sob constante escrutínio internacional. Esse equilíbrio entre produção e conservação será um ponto sensível para o agro, que precisará se adaptar para responder à demanda por certificações e garantir acesso a mercados externos, especialmente na União Europeia.
No campo da infraestrutura, o investimento em logística é crucial para o escoamento de grãos e carnes. Os candidatos eleitos para governar estados de grande produção agrícola, como o Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, mostraram-se comprometidos com o desenvolvimento de rodovias, ferrovias e hidrovias. A efetiva implementação desses projetos pode reduzir custos logísticos, aumentando a competitividade e mitigando um dos maiores gargalos.
Também em pauta estão as questões regulatórias, como o uso de pesticidas e práticas ambientais. Nesse quesito, o setor anseia que os políticos adotem uma postura pragmática. O agro pressiona por regulamentações mais ágeis e alinhadas com práticas internacionais, argumentando que uma regulamentação moderna sobre pesticidas é essencial para manter a produtividade e enfrentar pragas e doenças que ameaçam as safras. Entretanto, é importante também que se encontre uma via de equilíbrio, que permita ao setor utilizar novas tecnologias e insumos agrícolas sem descuidar das preocupações ambientais.
Falando do âmbito fiscal, os novos prefeitos ao que tudo indica, irão enfrentar pressões significativas tanto para preservar quanto para revisar esses benefícios. De um lado, a bancada ruralista, que mantém representação expressiva no Congresso, trabalhará para defender a manutenção de subsídios e incentivos, argumentando que são essenciais para sustentar a competitividade da produção frente aos mercados internacionais. Esses subsídios incluem desde isenções fiscais sobre maquinários e insumos, até linhas de crédito especiais, vitais para pequenos e médios produtores.
Por outro lado, o governo precisará lidar com restrições fiscais e demandas sociais, o que pode levar a uma avaliação mais rigorosa dos benefícios concedidos ao setor. Existe uma tendência de revisão desses incentivos, especialmente em busca de maior transparência e eficiência no uso dos recursos públicos.
Outro ponto importante é o debate em torno da reforma tributária, que está sendo conduzido com um olhar para simplificação fiscal e possíveis mudanças nas alíquotas de impostos sobre a produção e a exportação de commodities. Se essa reforma seguir adiante, que preserve certas isenções para o agro, e aí será uma vitória. Porém, caso opte por tributar mais para equilibrar as contas públicas, o agro poderá enfrentar obstáculos para manter sua competitividade.
Quer dizer, embora haja preocupações legítimas em relação às políticas que podem ser implementadas a partir do próximo ano, o setor está se mobilizando para se adaptar e superar. Claro, há incertezas com a segurança jurídica das propriedades rurais, especialmente diante de possíveis mudanças nas políticas de reforma agrária e demarcação de terras indígenas. Recentemente, invasões de terras e conflitos agrários, especialmente no Paraná e em Mato Grosso do Sul, foram temas centrais na reunião da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).
Produtores temem também que reformas tributárias possam resultar em maior carga fiscal sobre insumos e produtos agrícolas, elevando ainda mais os custos. Por outro lado, há doses de otimismo. Já que há sinalizações positivas como financiamento, sustentabilidade e inovação tecnológica. Recentemente, como o anúncio de um Plano Safra recorde de R$ 364,22 bilhões, e a possibilidade de acessar crédito com taxas de juros reduzidas é uma boa notícia. Especialmente para quem depende de financiamento para expandir a produção, recuperar áreas degradadas e investir em tecnologias mais eficientes.
Outro ponto positivo é o foco na sustentabilidade. Para aqueles que já investem em práticas de baixo carbono e preservação de reservas, o apoio governamental em iniciativas ambientais representa um incentivo direto, que pode abrir portas para novos mercados internacionais que exigem certificações ambientais. O financiamento específico para práticas de conservação é um sinal de que o governo está atento à pressão internacional por uma produção sustentável, o que nos beneficia ao tornar o Brasil mais competitivo e reconhecido como um fornecedor responsável.
Além disso, o incentivo à agricultura familiar e o fortalecimento da mecanização no campo são recebidos com bons olhos por pequenos e médios produtores. A possibilidade de modernizar a produção com acesso a equipamentos a custos mais acessíveis é fundamental para melhorar a eficiência e reduzir custos, especialmente em regiões onde o maquinário ainda é escasso.
Apesar desse otimismo inicial, os produtores continuam atentos às futuras políticas e regulamentações. É essencial que o governo mantenha um diálogo aberto com o setor para garantir que as medidas atendam às necessidades reais do campo e promovam um desenvolvimento equilibrado.
*Leandro Viegas é Administrador, bacharel em Direito e CEO da Sell Agro
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Computação Quântica no Agro estimula aumento de produtividade, controle de pragas e desenvolvimento de fertilizantes
A tecnologia quântica processa dados complexos que os computadores ‘tradicionais’ não suportam; o Agro tem soluções inéditas para novos desafios
A computação quântica é a mais revolucionária das tecnologias contemporâneas. Apesar de ser pouco explorada no Brasil, ela processa dados com alta velocidade, resolvendo cálculos complexos. A ciência quântica pode ajudar o agronegócio a ser ainda mais sustentável. Com novos equipamentos desenvolvidos, como GPS, LED, câmeras digitais, computadores e lasers, este é um segmento que não para de crescer, deixando registrada na história uma verdadeira revolução digital.
Mas essa revolução depende de um conhecimento profundo. Por isso, o país investe para aperfeiçoar a visão de especialistas neste campo de atuação. Um dos focos está no desenvolvimento agrícola, mas é urgente a criação de um projeto nacional de inovação que seja duradouro. Por meio desta máquina, certos tipos de problemas podem ser resolvidos mais rapidamente do que em computadores tradicionais.
A tecnologia quântica contribuirá para o desenvolvimento de novos equipamentos e sensores que possam trabalhar na produtividade das lavouras, como no mapeamento e controle de pragas, fazendo com que os produtores possam de maneira eficaz combatê-las com o uso mínimo de pesticidas. Novas formas de fertilizantes compõem o farnel dos acessórios. Métodos quânticos têm inovado também na avaliação da qualidade dos produtos pós-colheita e da agroindústria. Com o uso desta computação é possível rastrear códigos de estocagem e melhorar a capacidade e a velocidade de um enorme volume de dados, otimizando custos logísticos.
Em lavouras de milho, mapeia-se a produção; identificam-se as pragas; traçam-se soluções e aplicam-se diagnósticos em problemas com muita rapidez e de maneira segura. Esses são os principais atributos dos pesquisadores para o uso do campo quântico para o agro brasileiro.
Rogério Athayde, CTO da keeggo, sinaliza que a cadeia produtiva agrícola mundial tem muito a ganhar com o avanço da computação quântica de ponta a ponta, ou seja do campo até a mesa do consumidor brasileiro: “Vale ressaltar que os investimentos ajudarão desde o desenvolvimento de fertilizantes avançando para um plantio de qualidade e sem pragas, passando produtos com qualidade e rapidez para a indústria alimentícia, que chegam à mesa do consumidor com mais saúde, principalmente, no período entre safras”.
Empresas alimentícias, por exemplo, criam suas Provas de Conceitos (PoCs) em parceria com os setores de tecnologia e inovação das empresas, para que estas realizem seu posicionamento estratégico e que assim possam aprender, com maior brevidade, a tirar proveito e desmistificar a tecnologia quântica. O ideal para estas indústrias é que não fiquem obrigadas a consumir soluções prontas, no futuro, de grandes empresas internacionais, que vão vender tecnologias a um custo muito mais alto e com muitos segredos. É preciso criar uma independência desde já.
No mundo, há diversas ‘iniciativas quânticas’, que são programas governamentais de fomento, não só à computação quântica, mas a outras tecnologias de segunda geração. A China lidera os investimentos, com aportes de 10 bilhões de dólares, seguida pela Alemanha (3,1 bilhões de dólares), França (2,2 bilhões de dólares), e Estados Unidos (1,2 bilhão de dólares).
O Brasil, provavelmente, por razões histórico-culturais, apresenta um quadro peculiar no mundo: apesar de termos excelentes pesquisadores na área, e do tamanho expressivo de nossa economia, nosso país não figura na lista dos que recebem investimentos expressivos para o desenvolvimento dessas tecnologias, especialmente a quântica.
“Se as tecnologias quânticas continuarem evoluindo no ritmo atual, daqui a não muitos anos poderemos ter computadores que alcancem algum tipo de vantagem em problemas de simulação em química, de otimização ou de aprendizado de máquinas. A economia agrícola brasileira tem muito a crescer e de forma rápida com a inclusão dessa tecnologia, com resultados positivos para quem planta, quem industrializa e quem consome”, finaliza Athayde.