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Safra 25/26: Guerra no Oriente Médio, gargalos estruturais e risco climático reconfiguram mercado de Soja e Milho

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Biond Agro destaca seis tendências que devem influenciar preços, produtividade e estratégias comerciais do agronegócio brasileiro no próximo ciclo

Com a colheita da soja já encerrada e o país avançando agora para colher o milho safrinha, o agro brasileiro se depara com um novo desafio: armazenamento e logística. Grande parte das estruturas ainda está ocupada pelos estoques da supersafra de soja, dificultando o armazenamento do milho recém-colhido. O desequilíbrio pressiona a cadeia produtiva e pode gerar efeitos em cascata até o próximo ciclo.

Além disso, para 2025/26 o cenário vai muito além das condições climáticas e da produtividade no campo, fatores geopolíticos, econômicos e institucionais devem pesar fortemente nas decisões estratégicas do setor. A escalada das tensões comerciais entre Estados Unidos e China, o comportamento da inflação global, a escalada guerra Irã x Israel, a transição energética e a corrida eleitoral no Brasil despontam como elementos centrais para a formação de preços, o fluxo de exportações e a competitividade do agro nacional. 

Felipe Jordy, gerente de inteligência e estratégia da Biond Agro afirma: “Essa análise oferece uma leitura estratégica que vai além do curto prazo. Entender os vetores de transformação ajuda o produtor rural a se antecipar e se posicionar melhor frente a um mercado cada vez mais volátil e interligado globalmente”.

1. Geopolítica e Guerras

A relação entre EUA e China segue como uma variável crucial para o agronegócio brasileiro. Hoje, o cenário ainda é incerto. Uma possível manutenção das tarifas contra produtos chineses poderia impulsionar as compras da China no Brasil. Por outro lado, um eventual acordo entre os dois países poderia redirecionar a demanda para os norte-americanos.

Além da tensão entre as duas maiores economias do mundo, outro fator que deve entrar no radar do produtor brasileiro é o conflito entre Irã e Israel. O embate no Oriente Médio traz repercussões relevantes para o setor agrícola nacional, especialmente no que diz respeito à volatilidade dos preços internacionais do petróleo e à oferta global de fertilizantes. 

O Irã é um dos grandes fornecedores de ureia, insumo essencial para diversas culturas brasileiras. Qualquer interrupção nas exportações iranianas pode gerar escassez e elevação dos custos de produção no Brasil, além de pressionar o câmbio e aumentar os custos logísticos com a alta do barril do petróleo. Em um cenário de margens mais apertadas, esses fatores geopolíticos podem afetar diretamente o planejamento da próxima safra.

“É importante lembrar que o Brasil colheu uma safra recorde de soja em 2024/25, o que pode ampliar sua competitividade dos preços no mercado internacional. A disputa entre EUA e China, ao mesmo tempo que abre oportunidades para o agro brasileiro, também impõe riscos que não podem ser ignorados. Da mesma forma, a instabilidade no Oriente Médio, especialmente em países-chave para o fornecimento de insumos, pode comprometer o equilíbrio de custos e impactar a rentabilidade do setor”, avalia Jordy.

2. Inflação e Política Monetária

O ambiente macroeconômico começa a mostrar sinais de melhora. Ainda que o crédito agrícola siga pressionado, já não há um cenário tão tenebroso quanto meses atrás. A perspectiva atual é de uma trajetória de queda dos juros ainda neste ano, influenciada por um câmbio mais baixo, refletindo a desvalorização do dólar em meio às incertezas políticas do governo Trump. No entanto, o risco fiscal brasileiro segue no radar e pode representar um fator de pressão sobre o Real. A atenção a esses elementos continua fundamental para o planejamento financeiro dos produtores. 

“Apesar das incertezas, caso a inflação global desacelere nos próximos trimestres, há espaço para redução nos custos de insumos, o que tende a estimular a demanda e sustentar os preços agrícolas no médio prazo.

3. Clima e Risco Climático

A previsão de um cenário climático neutro para o próximo ciclo reduz o risco de extremos como secas prolongadas ou chuvas excessivas. Essa estabilidade tende a beneficiar a produtividade e a logística das lavouras. Ainda assim, os especialistas alertam para eventos localizados que podem comprometer regiões produtivas mesmo em contextos globalmente favoráveis.

4. Oferta e Demanda Global

O mercado global de grãos passa por um novo ponto de equilíbrio entre oferta e demanda. No caso da soja, os estoques seguem elevados após supersafras recentes, enquanto a demanda chinesa dá sinais de estabilização. Já no milho, o aumento de área plantada nos Estados Unidos deve contribuir para a recomposição dos estoques, ampliando a oferta global. 

No entanto, o consumo interno brasileiro, impulsionado pela indústria de etanol e pelo setor de nutrição animal, tem atuado como um fator de sustentação dos preços regionais. Ainda assim, a expectativa de estoques mais robustos, especialmente no mercado futuro de Chicago, pode exercer pressão de baixa sobre as cotações internacionais nos próximos ciclos.

5. Transição Energética

O avanço de usinas de etanol de milho no Brasil reposiciona o cereal como insumo estratégico na matriz energética nacional. Com novos projetos em implantação, o país pode se tornar o segundo maior produtor mundial desse biocombustível. A demanda interna deve crescer, reduzindo a disponibilidade para exportação.

“Estamos diante de uma mudança de paradigma na destinação do milho no Brasil, com reflexos diretos sobre oferta, preço e fluxo logístico”, explica Felipe Jordy.

6. Eleições e Política Brasileira

O pleito eleitoral em 2026 trará consigo incertezas sobre política fiscal, crédito rural, tributos e relações comerciais. Medidas populistas podem afetar o ambiente de negócios, enquanto uma eventual abertura a acordos internacionais pode abrir novos mercados para o agro brasileiro. A volatilidade do câmbio, típica de anos eleitorais, já começa a preocupar o setor.

“As eleições de 2026 terão papel central na definição do ambiente regulatório e fiscal do agronegócio. É importante que o produtor esteja atento ao comportamento dos mercados e as propostas em debate”, finaliza Jordy.

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Mapeamento inédito revela poder do amendoim no Brasil

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Estudo da ABEX-BR quantifica a cadeia do amendoim e confirma: Brasil é o 3º mais eficiente do mundo em produtividade

A Associação Brasileira do Amendoim (ABEX-BR) anuncia o lançamento do livro “Mapeamento e Quantificação da Cadeia do Amendoim Brasileiro”, o primeiro estudo no país a oferecer um raio-x completo do setor, desde o produtor até o exportador, com dados inéditos da safra 2024/2025.

O evento de lançamento será realizado no dia 3 de dezembro, às 14h, em Ribeirão Preto/SP, e marcará a disponibilização de informações que comprovam a relevância da leguminosa no cenário nacional.

Um dos destaques da pesquisa revela que o setor movimentou um faturamento total de R$ 18,6 bilhões no último ano, consolidando o amendoim como um player de grande porte e de alto impacto socioeconômico para o país.

“Este mapeamento é um divisor de águas para toda a cadeia. Pela primeira vez, temos uma visão completa e quantificada do nosso impacto. Com R$ 18,6 bilhões em faturamento, a importância do amendoim ultrapassa o campo e chega à mesa de negociação de grandes instituições. Temos dados concretos para guiar investimentos, estruturar linhas de crédito e influenciar políticas públicas que sustentem a nossa eficiência produtiva, que já é a 3ª maior do mundo”, afirma Cristiano Fantin, presidente da ABEX-BR.

Um raio-x socioeconômico para o desenvolvimento setorial
O estudo vai além dos números de produção. Ele compila dados socioeconômicos detalhados que interessam não só ao público em geral – que acompanha a geração de riqueza e emprego – mas, principalmente, a órgãos reguladores, ao setor financeiro e ao mercado de seguros.

O livro oferece uma visão completa da safra 2024/2025 e servirá como base fundamental para o poder público, setor financeiro e de seguros na hora de regular a produção, formatar linhas de crédito e oferecer garantias de safra com precisão.

“Com este livro, a ABEX-BR cumpre seu papel de levar ciência e inteligência para todos os elos da cadeia, do produtor ao beneficiador. Esta é a nossa ferramenta para falar ‘para dentro’ do setor e ‘para fora’, com o governo, mostrando a capacidade de geração de valor, emprego e renda que o amendoim tem. É um setor que mais que triplicou o volume de produção na última década e precisa de informações à altura do seu crescimento”, conclui Cristiano Fantin.

O livro “Mapeamento e Quantificação da Cadeia do Amendoim Brasileiro” foi financiado pelo Núcleo de Promoção e Pesquisa (NPP) da ABEX-BR e estará disponível para download durante seu lançamento. A pesquisa foi realizada pela Markestrat, consultoria especializada em agronegócio.

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Nova geração de leveduras eleva rendimento do etanol em até 6%

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Ganhos podem chegar a R$ 30 milhões por safra

Avanços recentes em bioengenharia apontam para um salto inédito na produtividade do etanol, impulsionado por novas cepas de leveduras industriais. Pesquisadores da Lallemand Biofuels & Distilled Spirits (LBDS), nos Estados Unidos, registraram um aumento de até 6% na conversão da cana em etanol em relação às leveduras convencionais.

Segundo cálculos da LBDS, uma biorrefinaria com capacidade de produção diária de 1.000 m³ de etanol, poderia aumentar sua lucratividade em até R$ 30 milhões por safra, considerando o preço atual do etanol anidro. Os ganhos de eficiência têm relação com a nova geração de leveduras biotecnológicas, que expressam de 40% a 55% menos subprodutos, como o glicerol, comparado às leveduras comuns.

“As pesquisas têm encontrado formas de tornar mais eficiente o açúcar disponível para a síntese de etanol, reduzindo perdas metabólicas e aumentando a produtividade da fermentação”, explica Fernanda Firmino, vice-presidente da LBDS na América do Sul. Ela destaca ainda que o desempenho da nova tecnologia é cerca de 20% superior ao das cepas biotecnológicas LBDS já disponíveis no mercado.

Elisa Lucatti, gerente de aplicações da LBDS, afirma que o ganho de rendimento aliado à robustez tem sido o diferencial das cepas biotecnológicas. “As biorrefinarias sucroalcooleiras no Brasil, historicamente, enfrentam dificuldades operacionais que desafiam a permanência de leveduras no processo industrial. Assim, não é só rendimento que importa, mas estabilidade operacional que corrobora com economia de insumos”, diz.

A persistência das leveduras biotecnológicas no processo sucroalcooleiro tem recebido destaque especial. Em sistemas de fermentação contínua, conhecidos pelo alto desafio microbiológico, a geração de levedura atual já apresentou persistência superior a 200 dias sem necessidade de reinoculação, resultado inédito no país. A expectativa é que as novas versões ampliem ainda mais esse desempenho, podendo chegar à safra toda.

A empresa reforça, porém, que o aproveitamento do potencial das novas cepas está diretamente ligado à qualidade do processo, especialmente no controle de temperatura e procedimentos eficazes de limpeza. “Nossos mais de 10 anos de implementação conjunta aos times de operação das usinas de etanol de cana-de-açúcar comprovam que as unidades que possuem boas práticas operacionais, principalmente eficiência no CIP, são capazes de maximizar e atingir resultados recordes com leveduras de alta performance”, diz Lucatti.

Uma realidade que fazia parte somente do etanol de milho passou a fazer parte do setor sucroalcooleiro. Segundo a avaliação econômica da Lallemand, a evolução da engenharia genética, em pouco mais de uma década, aumentou em 1.300% os ganhos na produção de etanol de milho, de R$ 4/t, em 2012, para R$56/t, em 2024, abrindo um grande caminho para o mercado de etanol de cana-de-açúcar que encontrava-se estagnado.

Nos últimos anos, a companhia intensificou investimentos em bioengenharia aplicada ao metabolismo fermentativo, com foco em elevar a produtividade, reduzir custos operacionais e ampliar o desempenho ambiental das usinas. Desde 2010, tem sido investido mais de U$$ 100 milhões em pesquisas e desenvolvimento de soluções biotecnológicas.

Os maiores grupos sucroenergéticos do Brasil já são clientes da LBDS, que mira expansão em toda a América do Sul. “Estamos vivendo uma nova fase na bioindústria. O foco é maximizar o potencial biológico dentro da infraestrutura existente e reduzir os impactos ambientais, produzir mais utilizando menos. Isso só é possível com a implementação da bioengenharia de precisão”, afirma Firmino.

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Setor agropecuário comemora fim das sobretaxas dos Estados Unidos

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Presidente da Faesp alerta, entretanto, que é preciso reforçar a diplomacia e buscar
sempre novos mercados para garantir a rentabilidade do produtor

A decisão do governo americano de suspender, na última quinta-feira (20), as sobretaxas
sobre as importações de mais de 60 itens da lista de produtos agropecuários
brasileiros representa um avanço significativo para o comércio bilateral e para a
dinâmica do agronegócio nacional. Ao aliviar um peso financeiro relevante sobre itens
como carne, soja, frutas e commodities diversas, os Estados Unidos reabrem espaço
para que produtores brasileiros ampliem sua presença em um dos mercados mais
competitivos e lucrativos do mundo. Essa medida demonstra reconhecimento da
qualidade e da importância estratégica dos produtos do campo brasileiro no cenário
global.

Segundo o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São
Paulo (Faesp), Tirso Meirelles, além do impacto econômico direto, a suspensão das
sobretaxas traz um elemento fundamental para o planejamento das atividades rurais:
previsibilidade. Em um setor profundamente sensível às oscilações externas — seja
de preços, custos logísticos ou barreiras comerciais —, a possibilidade de operar com
maior clareza sobre as condições de acesso ao mercado internacional permite que
agricultores e pecuaristas invistam melhor, negociem com mais segurança e
organizem sua produção de forma mais eficiente.

“Essa notícia reforça a importância do setor agropecuário brasileiro no contexto
global. A tarifas extras penalizavam não apenas o produtor nacional, mas também os
consumidores americanos, que viram sumir das prateleiras de supermercados
alimentos que fazem parte da rotina diária das famílias e onde eles reconhecem
qualidade. É uma vitória importante do agro”, frisou Meirelles.

Antonio Ginack Junior, da Comissão de Bovinocultura de Corte da Faesp, comemorou
a decisão, mas ressaltou que os produtores precisam estar atentos para o futuro.
Segundo ele, “a taxação foi fantástica para o mercado brasileiro pois assim os
vendedores de carne bovina tiveram que sair da zona de conforto para abrir novos
mercados. E abriram! Com isso o preço da arroba ao ser taxada pelos Estados
Unidos, ao invés de cair, aumentou aqui no Brasil”.

“A notícia é muito boa, já que os Estados Unidos são grandes importadores de café
do Brasil. A preocupação era que eles procurassem outras origens devido as tarifas,
fazendo com que trabalho de anos do setor fosse desfeito. Para o setor cafeeiro a
decisão traz a certeza de voltaremos a exportar forte para o mercado americano”,
explicou Guilherme Vicentini, coordenador da Comissão de Cafeicultura da Faesp.

Outro fator relevante é que a medida fortalece a confiança nas relações comerciais
entre Brasil e Estados Unidos. O gesto do governo americano sugere disposição para
o diálogo e para a cooperação, reduzindo tensões e abrindo espaço para acordos
mais amplos no futuro. Essa sinalização positiva tende a beneficiar não apenas o
agronegócio, mas também outros setores da economia que dependem de relações
externas estáveis e transparentes.

Ainda assim, a decisão do governo americano não deve ser interpretada como uma
garantia definitiva. O episódio do tarifaço — com sobretaxas que chegaram a impactar
significativamente a competitividade brasileira — funciona como um alerta importante
para a vulnerabilidade de países exportadores diante de mudanças políticas e
conjunturais. A dependência excessiva de poucos mercados torna produtores e
governos mais suscetíveis a riscos geopolíticos e disputas comerciais que fogem ao
seu controle.

A suspensão das sobretaxas, entretanto, deve ser acompanhada por uma estratégia
mais ampla de diplomacia econômica ativa e da construção de novas parcerias
internacionais. Diversificar mercados, ampliar acordos comerciais e investir em
inovação e qualidade são caminhos essenciais para garantir que os produtos
brasileiros continuem competitivos no cenário global. Somente assim será possível
assegurar a rentabilidade dos produtores rurais e fortalecer a posição do Brasil como
um dos grandes protagonistas do agronegócio mundial.

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