Connect with us

Destaque

Os desafios da logística brasileira no intermodal no agro vão além do transporte

Os custos com o transporte são significativamente altos, exacerbados pelas longas distâncias entre os centros de produção agrícola e os principais portos ou mercados consumidores.

*Por Leandro Viegas

O agronegócio é uma das principais engrenagens da economia brasileira, representando uma parte significativa das exportações do País. No entanto, o setor enfrenta desafios logísticos estruturais que afetam sua eficiência e competitividade no mercado global. Estes estão enraizados, principalmente na infraestrutura de transporte precária, nos altos custos logísticos, na dependência excessiva de modais menos eficientes e nas complexidades regulatórias. Aqui, quero aprofundar nessas questões, explorando os obstáculos e as estratégias para superá-los, com um olhar detalhado sobre as políticas públicas e as tendências tecnológicas que estão moldando o futuro da logística intermodal no agro.

O Brasil, com seu vasto território, enfrenta um problema crônico relacionado à infraestrutura de transporte inadequada. As estradas, muitas em condições precárias, ferrovias limitadas e uma integração fluvial insuficiente compõem um cenário desafiador. A eficiência dessa modalidade de transporte, que depende da integração entre diferentes tipos de transporte como rodoviário, ferroviário, aquaviário e aéreo, é diretamente afetada pela qualidade da infraestrutura disponível.

A precariedade das estradas aumenta os riscos de atrasos e danos às cargas, enquanto a capacidade limitada das ferrovias e o subaproveitamento das vias fluviais limitam as possibilidades de optar por modais que poderiam ser mais econômicos e eficientes para o transporte de grandes volumes de produtos agrícolas. Esses fatores não apenas oneram as empresas, mas também estendem os prazos de entrega, reduzindo a competitividade dos produtos brasileiros no exterior.

Os custos com o transporte são significativamente altos, exacerbados pelas longas distâncias entre os centros de produção agrícola e os principais portos ou mercados consumidores. A predominância do transporte rodoviário, mais caro em comparação com os modais ferroviário e fluvial, aumenta ainda mais esses números. Além disso, os portos e terminais sofrem com gargalos operacionais que incluem a falta de eficiência nas operações portuárias e procedimentos burocráticos lentos. Esses atrasos resultam em janelas de entrega perdidas e podem afetar negativamente a frescura e a qualidade dos produtos agrícolas destinados à exportação.

A complexidade regulatória e os trâmites burocráticos constituem barreiras adicionais que também dificultam desde o planejamento logístico até a execução das operações de transporte e exportação. A lentidão na liberação de licenças e a alta carga tributária são exemplos de como as regulamentações podem impedir a eficiência logística.

Outro ponto que merece atenção, está relacionado à sustentabilidade. Esta quese tornou um critério fundamental para as operações. Empresas do setor estão cada vez mais investindo em modais de transporte sustentáveis e em tecnologias que reduzem o impacto ambiental de suas operações, como o transporte ferroviário e aquaviário, bem como investimentos em veículos e embarcações movidos a fontes de energia renováveis ou menos poluentes. A melhor integração entre diferentes modais de transporte permitirá uma movimentação de cargas mais fluida e eficiente. Essa mudança reflete não apenas uma resposta às demandas regulatórias e sociais, mas também um compromisso com a preservação ambiental como um componente essencial da viabilidade a longo prazo do setor.

Impacto das políticas públicas

Em resposta a esses desafios, diversas políticas públicas têm sido implementadas com o objetivo de melhorar a infraestrutura de transporte e reduzir os custos logísticos. Programas governamentais, como o de Investimento em Logística (PIL), e parcerias público-privadas voltados para a construção e manutenção de estradas, ferrovias, portos e hidrovias têm sido fundamentais para melhorar a infraestrutura existente e expandir a capacidade de movimentação de cargas. Além disso, a alocação de recursos financeiros, tanto do orçamento público quanto por meio de parcerias público-privadas (PPPs), tem impactado diretamente a capacidade de movimentação de cargas.

Incentivos fiscais e financeiros para investimentos em infraestrutura logística e inovação tecnológica também têm sido fundamentais para estimular a modernização e expansão da capacidade. Estas políticas incluem desonerações fiscais, linhas de crédito com juros subsidiados para a compra de equipamentos e veículos mais eficientes, e foco em sistemas de gestão logística, que têm estimulado as empresas a investir em equipamentos e veículos mais eficientes. Essas medidas são essenciais para a modernização da frota e para a expansão da capacidade do setor.

Outro elo importante para avançarmos nesse cenário está diretamente ligado ao avanço contínuo da infraestrutura logística, e que felizmente já está acontecendo. As empresas estão investindo significativamente em tecnologias de informação e comunicação para aprimorar a gestão da cadeia de suprimentos. Sistemas de rastreamento de carga, gestão de frota, e planejamento logístico avançado estão transformando a maneira como elas são monitoradas e gerenciadas.

A implementação de sistemas eletrônicos para a gestão de processos logísticos e aduaneiros tem reduzido a burocracia e os tempos de espera, com sistemas de janela única para o comércio exterior facilitando o processo de exportação e importação. Além disso, investimentos em soluções tecnológicas como Internet das Coisas (IoT), Inteligência Artificial (IA), blockchain e big data estão revolucionando a forma como as cargas são rastreadas e gerenciadas, promovendo uma gestão mais eficiente e transparente.

Olhando para o futuro, à medida que o agronegócio brasileiro avança na melhoria da logística intermodal, é crucial a adaptação a mudanças regulatórias e o aproveitamento de políticas públicas para promover um desenvolvimento robusto e sustentável. Investimentos em tecnologia e infraestrutura, junto com parcerias estratégicas entre empresas, governos e instituições de pesquisa, são essenciais para explorar novos mercados e aumentar a competitividade global.

Essas ações não só melhorarão a eficiência e a sustentabilidade do setor, mas também reforçarão a segurança alimentar mundial e a posição do Brasil no comércio internacional de commodities agrícolas.

*Leandro Viegas é Administrador, bacharel em Direito e CEO da Sell Agro.

Continue Reading
Click to comment

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Destaque

MFG Agropecuária investe em bem-estar nutricional para garantir maior conforto dos animais

MFG Agropecuária investe em bem-estar nutricional para garantir maior conforto dos animais

Sabe aquele dia em que a gente exagera no carboidrato? Logo vem aquela azia, refluxo e má digestão. Hoje, milhões de bovinos confinados sofrem dos mesmos sintomas durante o confinamento, reflexo da grande quantidade de concentrado na dieta, em torno 85%. Ou seja, o capim, alimento natural destes animais, representa apenas 15%. Preocupada em atingir altos níveis de produtividade, mas sem descuidar do bem-estar animal, a MFG Agropecuária está investindo pesado no conceito de “bem-estar nutricional” nas suas oito unidades espalhadas pelos estados da Bahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo.

“Não é só ambiência, estrutura, manejo e lida apropriados que ajudam os animais a estarem em seu estado de conforto. Tudo aquilo oferecido via cocho impacta o bem-estar animal. A nossa proposta é fornecer uma dieta saudável, respeitando os critérios de ruminação adequada e adotando o conceito de protocolos naturais, sem o uso de antibióticos”, explica Adriano Umezaki, gerente técnico de Nutrição da MFG Agropecuária.

Novo conceito nutricional
Sempre que a dieta possui volumes elevados de concentrado, uma quantidade excessiva de energia é fermentada, resultando num quadro de acidose. O ácido inflama as células presentes no rúmen e no ceco (região importante do intestino delgado), responsáveis pela absorção dos nutrientes metabolizados.Conforme o problema avança, mais o gado sofre indisposição. Ainda assim, é capaz de resistir até certo nível sem reduzir o ganho de peso.

Mas, o mesmo não acontece com a qualidade de carne. A presença de inflamação inativa a enzima responsável pela deposição de marmoreio, um grande atrativo para os apreciadores de cortes bovinos. O pior também pode acontecer, pois bactérias no trato digestivo podem cair na corrente sanguínea causando outras infecções pelo corpo. “Então podemos definir o bem-estar nutricional como o uso de estratégias nutricionais que permitam o máximo desempenho no confinamento sem prejudicar a saúde dos animais”, resume Umezaki.

Soluções inovadoras
Recentemente, a unidade de Tangará da Serra (MT) conquistou o selo FairFood. Além de coroar a estrutura e o manejo racional, também não deixa de ser um reconhecimento ao bem-estar nutricional aplicado, igualmente, em todas as plantas da MFG Agropecuária. Entre outros aspectos, o programa nutricional consiste no fornecimento de suplementos naturais certificados para melhorar a digestibilidade de concentrados.

Óleos essenciais de mamona ou castanha de caju e blends de carvacrol e oleoresina de pimenta (capsaicina) ajudam a controlar o pH ruminal, prevenindo inflamações, acidose ruminal e doenças associadas; bem como blends de enzimas xilanase, B-glucanase e celulase aceleram a digestão dos alimentos consumidos. O uso de taninos e saponinas à base de extratos vegetais como promotores de crescimento permitiu a substituição total de ionóforos, uma classe de antibiótico popular entre os confinadores, e ainda ajuda o grupo a mitigar a emissão de metano entérico em cerca de 17%.

A dieta também inclui um complexo de vitaminas, silicatos, leveduras, entre outros ativos, capazes de aumentar o conforto térmico e atuar diretamente na imunidade do gado. Como resultado, diminui-se morbidade e mortalidade, índice no qual a empresa se destaca entre as grandes operações de confinamento no Brasil. Sem esquecer a oferta de gordura protegida e naturais, existentes nos grãos de soja, farelo de arroz, caroço e torta de algodão. Comparada ao milho, principal ingrediente no cocho, a gordura possui duas vezes mais energia e não acidifica no rúmen. Com medidas como essas, a MFG registra média geral de GMD de 1,660g e 2kg, para novilhos filhos de touros com Índice Frigorífico.

Continue Reading

Destaque

Fábrica de torradores ATILLA comemora Dia Nacional do Café com curso gratuito de classificação e degustação

FÁBRICA DE TORRADORES ATILLA COMEMORA DIA NACIONAL DO CAFÉ COM CURSO GRATUITO DE CLASSIFICAÇÃO E DEGUSTAÇÃO

A formação, em parceria com o Senar e Faemg, é destinada a produtores e demais integrantes da cadeia do café

A Atilla – Fábrica de torradores – receberá entre os dias 26 e 30 de maio o curso gratuito “Classificação e Degustação”, oferecido, em parceria com o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) e com a Faemg (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais).

A instrutora responsável pela formação, de 40 horas, será Helga Andrade. O público-alvo é composto por produtores familiares e demais integrantes da cadeia do café.

As aulas acontecerão de segunda a sexta, das 8h às 17h, com uma hora de intervalo.

Serviço
Curso: Classificação e Degustação – gratuito
Data: 26/05 a 30/05
Horário: 8h às 17h, com uma hora de intervalo
Local: Atilla Lab – Av. Heráclito Mourão de Miranda, 1587, bairro Alípio de Melo, Belo Horizonte, MG
Telefone: (31) 9 8635-7017

Continue Reading

Destaque

Brasil mira novos mercados para ampliar exportações de carne bovina; especialista avalia impacto das tarifas impostas pelos EUA ao setor

Divulgação: Freepik

Líder mundial nas exportações de carne bovina, o Brasil prospecta novos mercados internacionais, como Japão e Vietnã, para consolidar sua posição e deve alcançar até 3,7 milhões de toneladas exportadas em 2025, segundo projeções. Especialista em comércio exterior avalia que as tarifas impostas pelos americanos não devem impactar de forma significativa o desempenho das exportações de carne bovina do país, que tendem a seguir em alta

Líder mundial nas exportações de carne bovina, o Brasil faturou mais de US$ 12,8 bilhões com o produto no ano passado e registrou um total de 2,8 milhões de toneladas exportadas – o melhor desempenho da história, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). Neste ano, as empresas brasileiras já exportaram 423.833 toneladas de carne bovina e faturaram mais de US$ 2 bilhões. Para manter essa posição, o país prospecta novos mercados estratégicos, como Japão e Vietnã, com os quais firmou acordos comerciais recentemente. A movimentação ocorre em meio a imposição de tarifas pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros. O especialista em comércio exterior e CEO da Tek Trade, Rogério Marin, avalia que a medida não deve gerar impactos relevantes nas exportações, já que a forte demanda interna nos EUA mantém o país como um dos principais compradores da proteína nacional.

“A tarifa de 10% imposta pelo governo de Donald Trump para os produtos brasileiros reflete uma escalada nas medidas protecionistas, ainda que tenha pouco potencial de afetar o cenário de importação de carnes bovinas dos Estados Unidos, que importam principalmente para suprir a demanda interna e nichos específicos, como carne magra para hambúrgueres. Anteriormente, em 2022, o Brasil enfrentou tarifas fora de cota devido à alta demanda americana, mas conseguiu manter a competitividade. No ano passado, os EUA importaram 229 mil toneladas de carne bovina brasileira, um aumento significativo em relação a 2023. Essa nova medida pode elevar os custos para os importadores norte-americanos, embora a demanda por carne continue elevada e atenue esse cenário. O Brasil também segue competitivo em preço e volume, o que deve sustentar a tendência de crescimento das exportações de carne”, avalia Rogério Marin.

Segundo estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o Brasil deve exportar 3,6 milhões de toneladas de carne bovina em 2025. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta até 3,7 milhões de toneladas. Fatores como a desvalorização do real, a retração de concorrentes como Austrália e Nova Zelândia e o avanço em acordos comerciais sustentam esse otimismo. Atualmente, o Brasil exporta para mais de 150 países e a China permanece como o principal destino da carne brasileira, seguida por Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos, Chile e Hong Kong, que juntos respondem por grande parte da receita do setor, estimada em mais de US$ 8 bilhões.

Novos mercados

No último mês, o Brasil passou a mirar novos mercados asiáticos para venda de carne bovina. O Japão, reconhecido por suas exigências sanitárias e por ser um dos maiores importadores mundiais da proteína, representa uma oportunidade de alto valor agregado e de rentabilidade para as empresas brasileiras por sua demanda por produtos premium. Já o Vietnã, com uma classe média em expansão, desponta como mercado promissor para cortes de maior qualidade. “Atualmente, a China é o maior importador de carne bovina brasileira. Os acordos com Japão e Vietnã ajudam a reduzir essa dependência, oferecendo maior estabilidade às exportações ao mitigar riscos de restrições ou flutuações em um único mercado. A entrada nesses países, no entanto, exige avanços em rastreabilidade, certificações e qualidade, mas o potencial de retorno é elevado”, avalia Rogério Marin.

Continue Reading