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Bioprospecção de microrganismos abre caminho para inovações científicas no Brasil
Parceria entre CFS e Scientia Lab investiga moléculas bioativas com alto potencial biotecnológico
Desde setembro de 2022, a Coordenadoria de Fauna Silvestre (CFS) conduz, em parceria com a startup Scientia Lab com interveniência da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa do Agronegócio (Fundepag), o projeto “Investigação e Identificação de Moléculas Bioativas a partir de Microrganismos”. A iniciativa busca identificar moléculas bioativas, compostos químicos presentes em organismos vivos, produzidas por microrganismos, com potencial de aplicação nos setores farmacêutico, de dermocosméticos, agropecuário, entre outros.
Segundo a diretora do Centro de Pesquisas Aplicadas à Fauna Silvestre, Dra. Irys Hany Lima Gonzalez, o projeto une expertises complementares. “De um lado, a CFS reúne uma coleção única de microrganismos isolados de fontes não convencionais, como resíduos orgânicos, compostagem e microbiota de animais silvestres. Do outro, a Scientia Lab contribui com análises químicas aprofundadas para identificar e caracterizar essas moléculas, enquanto a Fundepag atua como fundação de apoio, garantindo o suporte técnico e administrativo para o desenvolvimento das pesquisas”, explica.
Os microrganismos estudados possuem características especiais devido às suas origens únicas. Muitos deles ainda não foram descritos pela ciência ou são encontrados em ambientes pouco explorados, como carcaças de animais e resíduos processados. O foco inicial do projeto está nas atividades antimicrobianas, testando microrganismos contra patógenos de alta relevância, como Staphylococcus aureus e Acinetobacter baumannii, por exemplo. Esses microrganismos estão associados a infecções hospitalares e resistência a antimicrobianos.
Inovação aberta e impacto na sociedade
A adoção de práticas de inovação aberta é um dos diferenciais do projeto, que busca ampliar a repercussão das pesquisas ao conectar diversas áreas do conhecimento e setores da indústria. “Ao trabalhar em colaboração com diferentes setores, conseguimos potencializar os resultados e criar soluções que atendam a múltiplas necessidades do mercado e da sociedade. A inovação aberta nos permite aproveitar expertises variadas e transformar conhecimento científico em produtos com impacto real”, afirma Irys. A especialista também destaca a importância da inovação aberta como estratégia central da iniciativa, uma abordagem que reforça o caráter inclusivo do projeto, ao integrar empresas, pesquisadores e demais atores em um ecossistema de inovação colaborativo.
“As possibilidades são imensas, mas o caminho é longo. Testamos mais de 10 mil microrganismos e cada etapa exige muitos esforços para transformar um potencial em produto de mercado,” destaca a diretora. O processo envolve diversas fases, desde os testes microbiológicos na Coordenadoria da Fauna Silvestre até as análises químicas conduzidas pela Scientia Lab, cujo laboratório também está instalado no complexo da CFS em São Paulo.
O Núcleo de Inovação Tecnológica da CFS, coordenado pela Dra. Patricia Locosque, foi peça-chave na viabilização da parceria, coordenando desde a identificação da oportunidade até a formalização do acordo de pesquisa e desenvolvimento (P&D), que possibilitou o compartilhamento de área com a Scientia Lab.
Outro foco do projeto para 2025 será a investigação do potencial enzimático desses microrganismos, especialmente em atividades relacionadas à inibição de enzimas para uso em dermocosméticos. Além disso, a equipe conta com o suporte administrativo da Fundepag, permitindo que os pesquisadores foquem exclusivamente no trabalho técnico.
Oportunidades para novas parcerias
A diretora ressalta que, até o momento, cada parceiro absorve os custos das análises realizadas e novas fontes de financiamento são constantemente buscadas para as etapas mais avançadas. “Queremos atrair indústrias farmacêuticas e outros setores interessados em investir no desenvolvimento de produtos, como medicamentos ou soluções de controle biológico”, afirma.
Atualmente, o projeto está aberto a novas parcerias, incluindo indústrias interessadas na criação de medicamentos, cosméticos, soluções para a saúde humana e animal. Essa é uma oportunidade de vanguarda para empresas que desejam estar na linha de frente da inovação, além de contribuir diretamente para o avanço da ciência e para o bem-estar da sociedade como um todo.
O projeto, inicialmente previsto para durar cinco anos, pode ser renovado devido ao caráter de longo prazo e à complexidade das pesquisas. “O diferencial é justamente a exclusividade das nossas fontes e o potencial inexplorado de nossa coleção de microrganismos”, aponta Irys. Para ela, a iniciativa representa uma oportunidade de transformar descobertas científicas em aplicações práticas que beneficiem diversas indústrias e, ao mesmo tempo, ampliem o conhecimento sobre a biodiversidade microbiana.