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Consumidores de energia apostam em autoprodução de energia limpa e soluções para ganho de eficiência energética

Debates do segundo dia do Energy Solutions Show 2024 destacaram experiências em descarbonização e as soluções para gestão de energia no mercado livre

A edição 2024 do Energy Solutions Show (ESS), que ocorreu entre 22 e 23 de outubro, no São Paulo Expo, na capital paulista, trouxe uma série de discussões que traçam o futuro do consumo de energia elétrica no Brasil e no mundo. No dia de encerramento, entre os destaques estiveram palestras sobre estratégias de uso do hidrogênio verde na produção de fertilizantes, desafios para financiar investimentos no setor e oportunidades do mercado livre de energia. Especialistas e agentes do setor apontaram para o potencial transformador das novas tecnologias, com foco na sustentabilidade e na descarbonização da economia.

Durante o painel sobre o tema *Fertilizantes e o Hidrogênio Verde – Combinação de Sucesso para o Avanço da Indústria*, Fernanda Delgado, Diretora Executiva da ABIHV (Associação Brasileira da Industria de Hidrogênio Verde), destacou o potencial do Brasil para produzir hidrogênio, combustível que pode ser uma solução crucial para a descarbonização da indústria. Um dos seus usos é como insumo na produção de fertilizantes. Hoje, o Brasil importa quase 90% de todo fertilizante que utiliza.

Carlos Figueiredo, Diretor de Estratégia da Yara Industrial, apresentou o histórico de sua empresa na redução de emissões e os planos para atingir a neutralidade de carbono até 2050. Também ressaltou a importância de uma transformação da matriz energética de forma ponderada, enfatizando que “não há transição verde com os números no vermelho”. Ou seja, os custos dessa mudança precisam ser balanceados. Figueiredo destacou ainda que o Brasil tem um cenário competitivo para o desenvolvimento local de fertilizantes, mas precisa de isonomia tributária e de incentivos econômicos para viabilizar a produção interna com o uso de biometano e de hidrogênio.

Fábio Saldanha, Diretor de Hidrogênio da ABRAPCH (Associação Brasileira de Pequenas Centrais Hidrelétricas), reforçou a visão de que as hidrelétricas, responsáveis pela maior parte da matriz elétrica brasileira, enfrentam desafios para viabilizar novos empreendimentos. Segundo ele, o hidrogênio, junto com os fertilizantes nitrogenados, representa uma alternativa promissora, especialmente após o impacto global causado pela guerra na Ucrânia. Ele defendeu a produção desses insumos mais próxima dos centros de consumo, otimizando a logística e os custos.

Outro destaque foi Jacyr Costa Filho, Presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Federação das Indústrias de São Paulo (COSAG/FIESP), que trouxe um panorama do setor agropecuário. Costa Filho explicou que a remuneração pela descarbonização, especialmente no uso de fertilizantes à base de hidrogênio, deve ocorrer de maneira diferenciada, dependendo dos mercados de destino das commodities. Ele apontou que a Europa, em breve, deve remunerar as exportações agrícolas que adotarem práticas mais sustentáveis, enquanto países asiáticos e outros mercados emergentes ainda priorizam o custo sobre a sustentabilidade.

No painel *Mecanismos de Financiamento – Por Onde Começar e Quais os Instrumentos Mais Atrativos*, o debate girou em torno das alternativas financeiras para viabilizar a transição energética. Rafael Feler, Head de DCM e Finanças Estruturadas do BNDES, destacou o papel da instituição na promoção do uso de debêntures de infraestrutura, com foco em atrair capitais privados para o setor. Ele ressaltou que já foram emitidos R$ 100 bilhões em debêntures, sendo esse um mecanismo essencial para destravar gargalos e promover o desenvolvimento.

Igor Fonseca, Head de Power do Santander, comentou sobre as tendências globais de financiamento, mencionando que, em mercados mais maduros, como Europa e Estados Unidos, a dívida para projetos de energia é de longo prazo. Ele defendeu que o Brasil deve seguir esse caminho, permitindo maior previsibilidade e estabilidade para os investidores do setor energético.

O último painel, Energia Livre e Limpa – Experiências no Mercado Livre de Energia, trouxe exemplos de empresas que já estão usufruindo dos benefícios desse modelo. João Aramis dos Santos Girio, Diretor Comercial da COMERC, destacou o crescimento do mercado livre de energia no Brasil, com quase 15 mil consumidores migrando para o ambiente de contratação livre (ACL). Segundo Girio, há um potencial de expansão para 115 mil unidades consumidoras, especialmente com a popularização do autoconsumo de energia solar, que já conta com três milhões de telhados no país.

Anfilofio Rodrigues, Gerente de Eficiência Energética do Hospital Albert Einstein, compartilhou a experiência da instituição com o mercado livre de energia desde 2012, ressaltando os ganhos em previsibilidade e sustentabilidade, além da integração das equipes de energia e de meio ambiente. Já Gabriel Duarte, Gerente de Regulação e Comercialização do Grupo Amaggi, mencionou que, com a autoprodução de energia, a empresa conseguiu reduzir os custos em R$ 3 milhões, expandindo o modelo para outras operações do grupo.

As discussões no Energy Solutions Show 2024 reforçaram a necessidade de investimentos em tecnologias sustentáveis, como o hidrogênio verde e o biometano, e a importância de um ambiente regulatório e financeiro que apoie essa transição. O Brasil, com sua matriz energética diversificada e um setor agrícola robusto, está em uma posição privilegiada para liderar essa transformação, desde que os desafios econômicos e estruturais sejam superados.

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